Que educação é essa?
Em artigo publicado
recentemente num jornal da capital gaúcha, uma professora afirma que o papel da
educação é libertar o aluno das garras do neoliberalismo. Devido a esse tipo de
pensamento, o ensino do nosso país chega a níveis baixos de qualidade em
qualquer avaliação realizada, tanto em âmbito nacional quanto internacional.
Estamos mais preocupados em formar cidadãos críticos e comprometidos
politicamente do que transmitir-lhes os conhecimentos construídos ao longo dos séculos pela humanidade para que consigam, assim, pensar por si próprios.
A escola, todo mundo repete, precisa mudar. Quem
apregoa esse mantra acredita piamente que ela não mudou nos últimos trinta
anos. Entretanto, as transformações no ensino ocorridas no Brasil pós-ditadura
são notórias e se intensificaram a partir das Leis de Diretrizes e Bases dos
anos 90. Em conta-gotas, fomos deixando de lado o chamado “ensino tradicional” para
assimilar o pensamento de dezenas de teóricos do século XX, boa parte deles da
primeira metade desse mesmo século.
Já estamos, no
entanto, no século XXI e essas ideias já estão ultrapassadas, não contemplam
mais as necessidades do aluno. Com toda a informação a sua disposição, o papel
do professor seria ensinar o indivíduo a usá-la, mas fazendo com que ele mesmo
crie seus caminhos. O professor não pode dizer para o aluno, por exemplo, que o
neoliberalismo não é bom, que o capitalismo é selvagem, que o comunismo morreu,
que a esquerda é o caminho ou que a direita é a solução. A partir da leitura de
diversas fontes e de muita reflexão, o estudante chegará a uma ideologia de
vida escolhida por ele, não por nós, professores.
Isso somente é
possível se a educação voltar a valorizar a disciplina, a hierarquia, o
comprometimento. Os professores não conseguem mais lidar com alunos que não
estudam porque sabem que vão passar depois de recuperações e mais recuperações
paralelas e, se não adiantar, um provão para, assim, melhorar as estatísticas
que favorecem os governos. O jovem incomoda na sala de aula porque sabe que “não
vai dar nada”, as punições são leves. O professor não impõe respeito porque não
pode mais ser a autoridade dentro da sala, sujeito que está a ser processado pelos
pais se, por exemplo, retirar o celular do aluno. O jovem não lê mais porque o
seu mestre não pode obrigá-lo a ler “aqueles livros chatos”, pois isso, pasmem,
afasta-o da leitura e é antipedagógico!
O professor, porém, pode
(e deve!), segundo os “entendidos”, incentivar o estudante a ir para as ruas
repetir frases prontas, fazê-lo ler determinados teóricos e não ler outros que
são ideologicamente contrários a opinião do professor (que, por sua vez, segue
a ideologia do partido que está no poder), dizer-lhe para não assistir à emissora
de TV que não mostra “a verdade” dos fatos, que é ignorância ler a revista
semanal manipuladora de informação, etc. Estamos formando indivíduos críticos,
ora essa!
Os críticos da
educação tradicional reivindicam um ensino que não seja bancário, a conhecida
analogia freireana de que o professor deposita no aluno o seu conhecimento e este
apenas reproduz o que aprendeu. Entretanto, continuam no mesmo diapasão, somente
mudando a bandeira do banco.
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