Terroristas das timelines
Há quem lê um texto
ou assista à TV e apenas comenta com o companheiro ou com os filhos se gostou
ou não. No entanto, há quem prefira se acomodar na cadeira à frente do
computador ou segurar o notebook ou tablet
sobre as pernas, no sofá mesmo, e repercutir o que pensa para milhares de
outras pessoas nas caixas de comentários de sites
e timelines das redes sociais.
Tudo isso seria ótimo, não fosse o tom da maioria dos comentários. Geralmente,
é de ódio, ainda mais se o alvo for uma pessoa famosa ou uma rede de
comunicação importante. Em vez de dizer que tal cantor é muito ruim, escrevem
que é também um babaca. Em vez de criticar de forma civilizada um colunista, depois
de ler seu texto com atenção, leem somente o título ou o comentário de outras
pessoas, tiram conclusões precipitadas, acusam-no, não aceitam suas desculpas
por ter sido mal interpretado e, por fim, desejam que a pessoa perca seu
emprego, quando não desejam a morte do indivíduo.
No Brasil, estamos
há trinta anos vivendo numa democracia e desfrutamos da liberdade de expressão,
porém não sabemos usá-las. Temos diversas fontes de informação, mas escolhemos
aquelas mais duvidosas, porque combinam com nossa opinião e atacamos
raivosamente quem pensa diferente. Não basta dizer que a pessoa está equivocada,
é necessário chamá-la de idiota também. Atacamos emissoras de TV, revistas,
celebridades, jornalistas e artistas sem analisar o que fazem. Basta serem de
direita e nós de esquerda, serem católicos e nós evangélicos, serem
homossexuais e nós heterossexuais. O que importa é xingar, ofender pessoalmente,
mostrar que eles estão errados e nós certos. Estamos usando nosso direito de expressão,
ora essa!
Por insistir em
escrever na internet ou colaborar com jornais, já fui ofendido algumas vezes,
em uma delas por escrever um artigo expondo ideias contrárias a determinadas
crenças religiosas. Veja bem, contra as crenças, mas não contra as pessoas que
as seguem. Pois em vez de atacarem as minhas ideias, atacaram a mim,
desejando-me todo o mal do mundo. Em outro momento, depois de escrever um texto
reavaliando a influência de Paulo Freire na educação do nosso país, alguém escreveu
nas redes sociais que tinha pena de quem ainda era meu aluno e que eu merecia
ser demitido da escola particular onde lecionava, o que veio acontecer um tempo
depois. Nos dois casos, não atacaram as ideias, mas sim aquele que as tinha e
teve a coragem de expô-las.
Um famoso colunista
recentemente foi “linchado” nas redes sociais por ter escrito um texto em que
estava sendo irônico, querendo dizer justamente o contrário do fato pelo qual o
estavam atacando. Isso mostra que não só somos comentaristas injustos, como
também somos péssimos leitores.
Não podemos
relacionar tudo isso ao atentado terrorista contra cartunistas acontecido em
Paris no dia 7 de janeiro de 2015. Não estamos, porém, muito longe de vermos algo
parecido acontecer por aqui.
Comentários