Um contista das estrelas
Era um livro fininho,
escondido entre outros mais grossos da biblioteca da escola em que cursava a
sétima série. Mas como sou um assumido rato de biblioteca (ou uma traça, como preferirem),
nada me escapa. Gostei do título, “O inventor de estrelas”. Não conhecia o
autor, João Batista Melo. Foi amor à primeira folheada. O “livrinho” me
conquistou com aquelas histórias incríveis, fantasiosas, algumas beirando a
ficção científica, como o conto-título. Não dava para não se impressionar com a
história de moradores de uma cidade que vão aos poucos se transformando em
estátuas ou a dos meninos que se empoleiram sobre todo um ônibus em movimento
deixando apenas um espaço no vidro diante do motorista. Um conto melhor do que
o outro.
Retirei mais algumas
vezes o livro da biblioteca antes de me formar no ensino médio (antigo 2° grau).
Fiquei anos afastado daquela obra que me marcou profundamente como futuro
contista, juntamente com outro livro editado pela mesma editora, com uma capa semelhante:
“Deus dos abismos”, de Duílio Gomes. Quando voltei à escola, dessa vez fazendo
estágio como professor, procurei os dois livros na biblioteca, mas não os
encontrei.
Em 2009, na Feira do
Livro de Porto Alegre, um feliz encontro, aliás, dois. Chamou-me a atenção, em
um balaio de descontos, uma lombada com o nome do autor que admirava. O título
era “O colecionador de sombras”. Pensei: “Será que não encontro outro livro
dele?” Pois eis que, no mesmo balaio, lá estava outro de João Batista Melo, “Um
pouco mais de swing”. Quando o abri, li o índice e o que vi me transportou
àqueles anos da minha adolescência em que chafurdava nas prateleiras da
biblioteca da escola Polivalente. O volume reunia, além de contos inéditos,
todos os contos de “O inventor de estrelas”. Reencontrei, por acaso, uma antiga
paixão. Pude reler aquelas histórias e perceber que ainda mantinham aquele
poder que enfeitiçou o menino e tinham o mesmo enfeito no homem já entrando na
casa dos trinta anos.
Os novos contos,
claro, eram superiores. O autor, mais experiente, aprimorara sua arte, ambientando
alguns dos enredos em outros países e mantendo a veia do fantástico e do
estranho que marcou na sua primeira obra e também a segunda, “As baleias do Saguenay”, adquirida também por este leitor em outra feira de livro, dessa vez
em minha cidade.
Quando resolvi
organizar meu primeiro livro de contos, me espelhei em João Batista Melo ao
colocar epígrafes em todas as histórias. É uma referência literária importante
na minha ainda pequena e irrelevante obra. Não li seus dois romances, mas
espero fazê-lo em breve.
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