Vamos mudar a educação desse jeito?
Ninguém gosta de ser
chamado de ultrapassado, retrógrado, tradicional, conservador, reacionário, tiozão.
Se a pessoa tem alguma ideia nesse sentido, se sente inibida de falar, pois uma
massa maior vai dizer que ela está indo na contramão da história. Por isso
abraça qualquer proposta que tenha a palavra mudança, mesmo que essa nova
direção esteja sendo conduzida de forma equivocada.
No campo da
educação, mudança é a palavra de ordem. Em reuniões de professores, palestras,
seminários, cursos de formação como os que acontecem antes do início do ano
letivo, ela está lá, em letras garrafais, dita aos berros, afinal as coisas não
podem ficar como estão. E não podem mesmo, concordo. Se há problemas, temos que
solucioná-los. Acontece que os problemas também mudaram e a maioria não
percebe. Ainda se acredita que a educação parou no tempo, que é conservadora,
proibitiva. E pasmem: acredita-se que ela ensina demais!
Será que temos uma
educação conservadora hoje? A prática de realizar recuperações paralelas, com
muitas chances de o aluno atingir a aprendizagem esperada não foi uma mudança?
A troca de notas numéricas por conceitos mais amplos, que coloca o aluno médio
no mesmo patamar do aluno excelente, não é um processo de transformação? E as
punições mais brandas, em que a conversa com aluno substitui atitudes mais
drásticas como suspensão ou expulsão? Onde estão os castigos e o livro negro? A
diminuição do uso desses recursos não alterou as relações entre o professor e o
aluno? A interdisciplinaridade não é posta em prática há muito tempo entre os
professores? A decoreba já não caiu em
desuso? Não temos recursos tecnológicos em muitas escolas? Os livros didáticos
não estão sobrando a ponto de serem jogados fora? Já não se deixou de lado uma
porção de conteúdos considerados supérfluos para trabalhar com a chamada
“realidade do aluno”? Apesar de tudo isso, podemos dizer que os novos rumos
estão dando resultado? Ou, caso a resposta for negativa, a culpa ainda é da
educação tradicional?
Todos nós desejamos mudanças, porém não são essas
que estão em curso há vinte anos ou mais que vão melhorar o ensino. Os péssimos
resultados da nossa educação são fruto desse rumo que tomamos. A língua
portuguesa está sendo assassinada por pessoas que saíram da escola nessas
últimas décadas. A desvalorização do conhecimento também. O desrespeito idem. Se
não repensarmos as mudanças que estão em curso à moda gramsciana, o ensino no
nosso país só vai piorar.
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