Primeiro acorde
(Textos recuperados do blog de um escritor que desistiu sem nem mesmo começar)
Finalmente
aposentado. E finalmente livre de jovens e adolescentes que não querem nada com
nada. Um clichê necessário e verdadeiro. Não vou, porém, largar o que estava
preso dentro de mim durante todos esses anos de silêncio forçado porque já o
fiz no vaso sanitário.
Vamos ao que
interessa. Somente a literatura interessa. Ou somente a literatura ME
interessa. A família também, assim como a música e o cinema. Aqui, no entanto,
é a literatura que manda. Ao contrário de Kafka, conversar sobre literatura não
me aborrece. Começo um projeto pessoal arquitetado há anos. Aos poucos, os
poucos leitores que talvez eu tenha neste espaço que eu ainda pouco domino
saberão um pouco do projeto.
Num primeiro
momento, vou escrever ensaios, críticas, resenhas e crônicas, atuais ou que andei
escrevendo durante todos esses anos de leituras e mais leituras. Já criança,
mesmo sem saber escrever, lia, refletia e criticava. Lobato sofreu severas
críticas daquele leitor metido. Sorte a dele que o pirralho não sabia escrever.
Quem sabe o velho o faça agora.
Comprei uma casa em
uma localidade do interior do Rio Grande do Sul. A nova residência (não, não
direi onde morava antes) é um sítio, ou chácara, como chamam por aqui, e fica
distante de outra moradia, portanto livre, em princípio, de algum barulho
desagradável. O silêncio é quebrado pelo canto dos pássaros, o barulho da chuva
ou um disco de Beethoven, Bach e Brahms. Esse é o BBB que importa. E Mozart
também, claro, assim como todos os outros grandes compositores da música
erudita, de preferência com o selo amarelo da DG.
Está inaugurado este
espaço. Por enquanto, acredito, será lido apenas por mim e, quem sabe, pela
minha filha. Está lançada a garrafa. Que algum náufrago a encontre.
Júlio Nogueira
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