Conheça Carácolis (parte 1)
Carácolis é um país perdido no continente antártico, num lugar
cujo relevo tem todas as condições necessárias para a sobrevivência. Ignorado
até há bem pouco tempo pelo resto do mundo, tornou-se conhecido depois que
passou a exportar caracóis, tornando-se a principal economia da nação.
“Não é mol a casca del caracol” é o primeiro verso de seu
hino. A língua oficial é uma mistura de espanhol e português chamada enrolês.
Falam devagar, assim com são umas lesmas quando se trata de trabalhar. O
produto de exportação, portanto, não poderia ser outro, afinal não dá muito
trabalho criá-los.
O regime político é o presidencialismo de casca, que
funciona da seguinte forma: o povo elege o governante que, por sua vez,
refugia-se na sua casa, uma espécie de caverna em forma de concha de caracol.
De lá, executa as leis escritas nas paredes pelos antepassados que, dizem,
teriam vindo de um país da América. De vez em quando o presidente, atualmente
uma presidenta, põe a cabeça para fora para ver se está tudo tranquilo. Como
nunca está, refugia-se de novo e convida seus correligionários para comemorar o
sucesso do governo.
Conta-se que a atual governante foi proibida de falar em
público, pois se enrolava muito mais do que o próprio enrolês que já é
enrolado. A população, por sua vez, também evita falar e prefere se comunicar
com celular, uma das poucas invenções do exterior que deram certo em Carácolis.
A escrita, no entanto, me pareceu mais enrolada ainda. Conseguem complicar e
tornar mais ilegível o que já é complicado e legível. Dizem, porém, que
conseguem se comunicar e é o que importa.
Há controvérsias quanto à origem do nome do país. Numa pouco
frequentada biblioteca, livros enrolados como os antigos papiros nos contam duas
versões. Uma, a que me parece mais óbvia, diz que o nome deriva, por suposto,
do plural de caracol. Outra versão, mais mitológica, diz que os primeiros
habitantes teriam chegado numa espécie de canoa plana, sem remo (acredito que
seja uma prancha de surfe) e, quase mortos de frio, ao verem a beleza e a
singularidade do lugar, exclamaram “caraca!”.
“Caraca!” exclamei também eu (na verdade não foi bem essa a
expressão que usei) quando fui assaltado em plena rua. Nisso eles são ligeiros,
ah! como são! Mas isso é um assunto para um próximo relato, se não roubarem
meu notebook.
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