Direita, esquerda, dois lados da mesma moeda
Por pura coincidência, leio dois livros de escritores com posições
políticas bem distintas: Abelardo Castillo, que é de esquerda, e Nelson
Rodrigues, de direita. Do primeiro, leio Diarios
– 1954-1991, e do segundo, me debruço sobre O óbvio ululante – primeiras confissões. Em ambas as obras, por
serem confessionais, os autores revelam suas ideologias abertamente. Não é,
porém, sobre elas que quero escrever, mas sim sobre certo patrulhamento que
noto nas redes sociais sobre o que se deve ler ou não.
Quem é de esquerda, por exemplo, critica quem lê autores
como Luiz Felipe Pondé. Já me chamaram a atenção por ter postado uma frase dele,
dizendo algo como “não acredito que você lê esse cara!”. Do lado da direita,
nunca fui abertamente questionado, mas indiretamente noto pessoas considerando gente
do calibre de José Saramago como péssimo escritor só por ele ter sido
comunista.
Por estas e por outras é que eu me afasto cada vez mais de
ideologias, pelo menos tento me manifestar o mínimo possível sobre elas. Sigo e
tenho como “amigos” nas redes sociais gente de todos os lados, indo dos mais
radicais aos mais moderados e tiro algo de bom de suas postagens. Se nada me
acrescentam, deixo de seguir o sujeito, mesmo que permaneça “amigo” dele.
Hoje é um desses dias em que as postagens beiram ao ridículo,
pois há manifestações a favor do impeachment da presidente Dilma em várias
capitais. De um lado, gente que tenta de todas as maneiras diminuir a relevância
dos protestos; de outro, gente que tenta de todas as maneiras mostrar que algo
inútil (pois acabei me convencendo de que qualquer tipo de protesto leva do
nada a lugar nenhum) tem adesão de uma parcela significativa da população. É um
show de falácias e incoerências que não têm tamanho, por isso me distancio de
tudo isso e não tomo partido de lado nenhum. Já cantavam os Engenheiros que
esquerda e direita são iguais e que Fidel e Pinochet tiravam sarro da gente.
Sou alienado? Talvez. O alienado é aquele que enxerga apenas
o seu próprio mundinho como o verdadeiro e despreza o mundo dos outros. Eu
enxergo apenas o meu mundo, no entanto fico apenas indiferente aos dos demais. Sou
alienado na medida em que me sinto um alien
que recém-chegou a um planeta confuso. Para entendê-lo, procuro uma biblioteca
e leio os livros que poderiam me dar uma resposta, porém me trazem mais questionamentos
e, por isso, não tenho tempo para ter certezas, muito menos tempo para
convencer os outros de que minhas certezas são as certas.
Por isso vou continuar lendo escritores e filósofos de
esquerda ou direita. Leio Márcia Tiburi e Olavo de Carvalho, Graciliano Ramos e
Vargas Llosa, ouço Chico Buarque e Lobão. Não me interessam suas ideologias,
mas sim o que criam e a capacidade que eles têm de me fazer questionar a realidade,
cada um a sua maneira.
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