No Traçando livros de hoje, "Guia politicamente incorreto do sexo", de Luiz Felipe Pondé
Filosofando sobre sexo
Comecei a conhecer a obra de Luiz Felipe Pondé a partir de Crítica
e profecia – a filosofia da religião em Dostoiévski, um longo ensaio
acadêmico sobre a obra do autor de Crime
e castigo. Só depois apareceram na imprensa os seus artigos menos alentados
em que o filósofo buscava atingir um público maior para as suas reflexões, sem
deixar de lado, no entanto, sua enorme erudição. Surgiu daí o polemista, com
pensamentos “de direita”, politicamente incorretos e, por isso, provocativos. É
o tipo de escritor que gosto de ler: aquele que nos deixa inquietos, de quem às
vezes discordamos, ou fingimos discordar, e outras vezes diz aquilo que
gostaríamos de dizer e não dizemos, muitas vezes com vergonha do julgamento dos
outros.
Depois de Contra um
mundo melhor e antes de A era do
ressentimento, Pondé escreveu, em 2012 o Guia politicamente incorreto da filosofia, que se tornou um inesperado
best-seller e lhe rendeu uma boa dose de críticas por fugir do que a esquerda
dita como cultural e intelectualmente relevante no país. Seguindo a mesma
linha, acaba de publicar o Guia politicamente incorreto do sexo (Leya, 228 páginas) que promete
incendiar os debates sobre os tabus sexuais e sobre como os “chatinhos” e
“chatinhas”, segundo o autor, tratam o tema.
Denominado pelo filósofo como uma “coletânea de aforismos
imorais”, os curtos e irônicos ensaios buscam rever posições ainda muito
conservadoras sobre o sexo e combater a patrulha, principalmente das
feministas: “o feminismo não entende nada de mulher”, escreve. O politicamente
correto censura nossas atitudes, nossas relações. Busca o bem comum, muitas
vezes, porém resultando numa imposição no modo como o indivíduo deve se
comportar na sua vida pessoal. “A praga do politicamente correto destrói, no
campo do prazer e do afeto, uma miríade de relações microscópicas construídas
ao longo de milhares de anos entre homens e mulheres a fim de dar conta dessa
insustentável paixão que um tem pelo outro, seja nas suas formas legítimas,
como casamento e família, seja nas suas formas ilegítimas, como o adultério e o
segredo de alcova.”
Pondé ressalta que a mulher gosta de ser desejada e as que
pensam o contrário são as feias, sem atrativos, ressentidas com o sucesso das
outras. Ele vê com bons olhos, inclusive, os patrões que contratam as
atraentes: “Fazer uma reunião com pernas lindas a sua volta melhora o pensamento,
ainda que ignorantes e mentirosos digam o contrário.” E afirma: “Quem não
mistura sexo e trabalho deve muito àqueles que o fazem”.
Como todo bom aforista, Pondé nos proporciona frases
lapidares que podem ser usadas nas redes sociais: “querer fazer sexo
politicamente correto é como querer ser piloto de avião tendo medo de altura”;
“pessoas muito limpas não deveriam emitir opiniões sobre sexo”; “fala-se
‘penetrar uma mulher’ porque a anatomia imita a vida do afeto: o amor é a
invasão da vida.” Vale destacar, também, a capa e as ilustrações de Gilmar
Fraga, que trazem, por exemplo, Freud e Lacan com as calças arriadas e cuecas
samba-canção. A propósito, Pondé também é psicanalista.
Guia politicamente incorreto do sexo não tem a mesma qualidade dos
demais livros de Pondé, porém traz boas e bem-humoradas reflexões para mentes
inquietas. Goste-se ou não do autor, é uma leitura indispensável para conhecer
nossa contemporaneidade.
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