Sobre escrever diários
Já tentei várias vezes escrever um
diário. A última tentativa denominei de “Bauman foi mais esperto”, pois gostei
do título que o sociólogo deu ao seu, que dialoga com a pintura do cachimbo de Magritte.
Ainda esbocei algumas coisas em caderninhos, que chamo de “molekine de pobre”.
Nada vai adiante. Poderia simplesmente retomar o diário de onde parei e
registrar algo como “ah, não escrevo há tantos meses” ou “me perdoe, querido
diário, por abandoná-lo”. Sinto, porém, que devo começar um novo. E não mais
publicá-lo no blog ou nas redes sociais. Será um diário íntimo. “A alegria intensa é recolher-se e calar-se. Falar é
dispersar”, escreveu Amiel
em seu exemplar diário.
O crítico Rodrigo Gurgel elencou, em um texto de seu site, “10 motivo
para escrever um diário”. Destaco o número 2: “Escrever um diário despertará sua
autoconfiança. Você está livre diante da página em branco. Pode julgar os
homens do seu tempo e você mesmo sem pudor, sem qualquer tipo de censura — o
que não deixa de ser uma higiene mental.” Há muita coisa presa nessa minha
mente inquieta. Como sou professor, no entanto, sinto necessidade de me conter,
pois já escrevi muita coisa que pesou contra mim em muitas ocasiões. Às vezes pensamos
que devemos ser livres para dizer o que bem entender, mas não é bem assim.
Agora mesmo estou pensando uma porção de coisas sobre alguns alunos que se
formaram no Ensino Médio e preciso colocar no papel. Vou fazê-lo, portanto, num
diário a que somente eu terei acesso e que não terá relevância para ninguém
além de mim mesmo. Os amigos das redes sociais não precisam mais saber tudo o
que eu penso. E acredito que ninguém queira saber mesmo, salvo aqueles que planejam
me prejudicar.
Leio alguns diários. Mergulho no
momento no de Abelardo Castillo e na fila está o de Ricardo Piglia. Preciso
reler o de Kafka. E preciso escrever um de verdade sobre as minhas verdades.
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Abraços