Sobre "Papel mojado", de Juan José Millás
O livro num primeiro
momento me atraiu pela capa, com o desenho de uma máquina de escrever. Mas já
estava, no entanto, querendo ler algo de Juan José Millás há algum tempo. A sinopse
traz a palavra suicídio, tema que, como alguns leitores do blog já sabem, me
persegue. Há também a presença de um escritor, na verdade dois, que querem
escrever um romance em que um deles é morto. O que vamos ler é uma dessas
narrativas idealizadas. Soma-se a isso tudo o metarromance, algo que também me
atrai. O resultado é uma leitura prazerosa, rápida, com uma tensão na medida
certa para o público a que se destina a obra, o juvenil, apesar de o desfecho
exigir um leitor mais experiente.
Papel mojado (1983),
título cuja explicação só aparece no final, traz a história de um jornalista de
uma revista popular de Madrid e também escritor fracassado, Manolo G. Urbina, cujo
amigo, Luiz Mary, se suicidou. Incitado pela ex-namorada, Tereza, que por
último foi amante do morto, e por um episódio que vivenciaram dias antes, ele
está convicto de que houve, na verdade, um assassinato e resolve investigar. Os
dois se envolvem numa teia de falcatruas relacionadas à indústria farmacêutica.
Como a trama é policial, detetivesca, apesar de o jornalista estar fazendo a
tarefa de péssimo detetive, não vou revelar muita coisa.
O jogo de aparência e
verdade é a parte maior do iceberg. Quem é o escritor e quem é o personagem? O
dinheiro é verdadeiro ou falso? Houve um suicídio ou não? Qual o crime que a
empresa realmente cometeu? Quem é realmente o assassino, se houve assassinato? Os
amigos são amigos de verdade? O que esconde o monte de papéis da maleta,objeto
de desejo dos capangas mal-encarados? A história que lemos é policial mesmo ou
não passa de uma paródia do gênero? Desvendar o oculto nos mantém no suspense
até o final.
O livro foi escrito
por encomenda e se tornou um sucesso de vendas, sendo adotado inclusive por
escolas na Espanha, dando certa tranquilidade financeira para que Juan José
Millás produzisse sua obra adulta. Muitos jovens leitores espanhóis devem ter-se
iniciado no gosto pela leitura através desse romance. Para mim, é a porta de
entrada para as outras obras do escritor valenciano.
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