Angústia, Graciliano Ramos
“Levantei-me há
cerca de trinta dias, mas julgo que ainda não me restabeleci completamente.” O
início do romance Angústia, de
Graciliano Ramos, nos põe diante de um homem doente, como o narrador de Memórias do subsolo, de Dostoiévski.
Ainda não sabemos do
que Luís da Silva está se recuperando, mas essa enfermidade o faz ter um olhar
amargo sobre os outros, como afirma no segundo parágrafo: “Há criaturas que não
suporto”. Deixou de ter prazer com as coisas de que antes gostava, como as
livrarias, nesse caso devidos aos escritores “exibindo títulos e preços no
rosto, vendendo-se. É uma espécie de prostituição”. Ora, o narrador está
justamente escrevendo um livro. Não estaria ele também “oferecendo-se como as
mulheres da Rua da Lama”?
Por conseguinte,
ainda na primeira página, aparece o antagonista, Julião Tavares, com sua “cara
balofa”, cuja imagem aparece na sua frente o tempo todo. Os outros são o
problema, apesar de muitas vezes se colocar para baixo como fracassado. São as
outras pessoas, no entanto, que o desprezam, o dono da casa fica enchendo sua
paciência ao cobrar o aluguel e não compreende sua situação financeira, da
mesma forma “o homem da luz”. Todos, enfim, são “um bando de vermes”. Pensa em
suicídio, pois só a morte faria os outros dizerem algo positivo sobre ele: “Os
conhecidos dirão que eu era um bom tipo e conduzirão para o
cemitério, num caixão barato, a minha carcaça meio bichada”.
Esse amargor vem da frustração por ter sido desprezado pela
vizinha e namorada Marina, que acabou se aproximando de Julião. Ele havia
gastado suas economias para agradá-la, dando-lhe presentes, um enxoval, mas lhe
devolveu com a infidelidade, preferindo o outro mais rico, que por sua vez a
abandona e com um filho na barriga. A vingança contra Julião Tavares e seu
sentimento de culpa é que resulta no relato que lemos.
O relato “derramado” em centenas de páginas resulta numa obra
que destoa do outros romances de Graciliano pela falta de contensão vocabular, uma
marca do escritor. Muita coisa sobra no enredo, as reflexões são muitas vezes repetitivas,
as digressões fazem o leitor se perder e parece que o próprio narrador se
perde. Havia lido na universidade o romance (pelo menos não me lembro de ter
lido antes) e havia gostado. A releitura, entretanto, me decepcionou. Coloco,
então, São Bernardo como superior à Angústia. Já Vidas Secas, que pretendo reler na sequência, fica num segundo
lugar na minha predileção. Caetés é
ruim, apesar de boas passagens que mostrava o grande escritor que conheceríamos
depois.
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