“Desligue o celular, Joãzinho!”


Minha crônica no jornal Gazeta do Sul de ontem.




A palavra ensinar parece que saiu de circulação, pois só se fala em educar. A própria denominação professor está começando a ser substituída por educador. Vem sendo deixada de lado a ideia de transmitir conhecimento para a concepção de "treinar" para a vida. O conhecer cede lugar à prática.

Minha preocupação atual relaciona-se ao foco da atividade do professor, que é o aluno, porém não em mimá-lo, como se vem fazendo. O sistema de ensino jamais irá funcionar se não há a busca de ambos os lados pelo saber. Todos aprendemos, claro. Devemos estar sempre em busca do conhecimento e escolhi essa profissão justamente porque me sustentaria financeiramente realizando essa busca diária. A cada releitura que faço dos escritores descubro coisas novas. Uma coisa, porém, precisa ser levada em consideração: o aluno não sabe a mesma coisa do que eu e nem mesmo sabe mais. Criou-se uma ideia de igualdade, uma falta de hierarquia no âmbito escolar, que está sendo nefasta.

Nesse sentido, falta o aluno querer saber e não é o que acontece. Velhas teorias do século passado que são mostradas como novas dizem que a escola deve ser prazerosa para o estudante, deve atraí-lo, pois há outras coisas mais agradáveis e interessantes ao seu redor. Ora, jamais a escola vai ser "atraente", porque o saber requer esforço. Se vamos treinar para a vida, devemos lembrar que ela não é totalmente prazerosa. Por que a escola seria?

Há momentos em que rimos, nos divertimos, brincamos, contamos piadas em sala de aula. Há outros momentos em que se deve ficar calado, ouvir, baixar a cabeça, realizar tarefas, ler, interpretar. São momentos de tortura para o aluno. Mesmo assim, são atividades que precisam ser realizadas, não se pode fugir delas. Se perguntarmos para os estudantes, no entanto, se eles querem esses momentos, dirão que não. Por quê? Porque o conhecimento não é relevante para eles. Basta a informação e ela está somente a um clique do computador ou do celular.

Nossa profissão está perdendo sua credibilidade porque nós mesmos não a estamos valorizando, na medida em que aceitamos inovações fajutas com máscara de modernidade. A maioria dos meus colegas professores também não se preocupa mais em buscar conhecimento. Numa sala de professor, hoje, discutir a novela da TV é mais importante do que a leitura de um livro (salvo um que tenha meia centena de variações de gris ou outro que coloque a responsabilidade nos astros do céu), assim como folhear a revista de produtos de beleza é mais comum do que uma publicação científica.

Há mestres que fazem a diferença. A eles dedico esta crônica.

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