Escrever, viver, morrer (ou Devanear cronicamente mata)
Por que escrever? Blanchot afirma: “Podemos certamente escrever sem nos indagar por que escrevemos.” Podemos, mas não o fazemos. Sempre me pergunto por que faço isso. Todo o escritor se pergunta e escreve sobre.
Escrevemos para sobreviver. Sempre adiamos alguma coisa para fazer outra coisa. Medeia insistiu para que fosse adiado seu banimento, precisava tratar de sua vingança, sobre a qual, obviamente o rei Creonte não sabia. Ele concedeu a ela mais um dia, o suficiente para que ela concluísse seu plano. Eu, quando escrevo, adio minha morte e concebo minha vingança. Quando escrevo sobre o suicídio – a atração que sinto por este ato -, não o cometo, adio sua realização. Se parar, morro, por minhas mãos ou de outra forma. A escrita me mantém vivo. É uma vingança contra o mundo que me deixou nascer.
Por que escrever? Por que escrever um texto como este? Por que se debruçar sobre o pensamento de Maurice Blanchot, se não para adiar alguma coisa? Adiar talvez a escrita de outro texto.
“... a morte, quer dizer, a recusa da morte, a tentação do eterno, tudo que conduz o homem a preparar um espaço de permanência onde possa ressuscitar a verdade, mesmo se ela perece”, escreve Blanchot em “A conversa infinita”.
Por que escrever?
Escrevemos para morrer aos poucos. Cada vez que digito algo um pouco de mim sai dos dedos e preenche a página em branco do computador. Estou cometendo um suicídio. Sou um suicida, como alguns já sabem. Penso em suicídio durante boa parte do meu dia a dia. Não em cometê-lo, mas nos que o cometeram, pessoas reais ou da ficção, escritores ou personagens.
E por que não escrever?
E por que continuar escrevendo?
E por que deixar de escrever?
Por que não apenas ler, ler e ler? Por que não ser normal? Poderia estar apenas de um lado, mas decidi ir para o outro, desde o princípio, desde que comecei a decifrar esse código composto por fonemas representados por letras que formam palavras, fases, orações, parágrafos, textos. Decidi costurar tecidos também, em vez de apenas desfiá-los.
Já não sei mais se escrevo para sobreviver ou se escrevo para morrer. Só sei que morreria se não escrevesse, mas viveria se deixasse de fazê-lo.
A questão também é outra: escrever só para mim ou escrever para publicar? Morrer no claustro ou morrer publicamente.
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