“Carpe diem”, professor
Caderno sobre o Dia do Professor no jornal Gazeta do Sul
“Carpe diem”, professor
Sempre
que me vem à mente a figura de um professor, ela é representada por John
Keating, personagem interpretado pelo saudoso Robin Williams em “Sociedade dos
poetas mortos”, que já mencionei em outras publicações. Talvez não compactue
com todas as suas ideias, porém, o filme do diretor Peter Weir foi muito
importante na minha vida, e continua sendo, na medida em que ainda o utilizo em
sala de aula para despertar nos alunos o interesse pela Literatura. Além disso,
serve para tentar renovar meus conceitos.
Queria
ser esse tipo de mestre, quando me formei na universidade. A realidade da sala
de aula, no entanto, não me permite ser como Keating, personagem que foi
inspirado num professor do roteirista do filme, Tom Schulman. Não dá para
rasgar os livros didáticos, “pular” estudos de escolas literárias, subir na
mesa (até porque meu peso não permite, no máximo subir em cima da cadeira).
Tampouco há alunos, com raríssimas exceções, com sensibilidade poética para
verem as coisas por outro ângulo e dispostos a se envolverem numa aula
diferente. Tentei isso várias vezes. Funciona no início, mas depois não levam
mais nada a sério e o que era interessante se torna chato para eles.
É bom
lembrar que a escola, de uma forma geral, já há muito tempo não é mais
conservadora, tradicional, porém não se decidiu a renovar de vez, e por isso os
conflitos entre professor X aluno persistem. A escola deixou de ensinar,
preocupada em agradar o aluno, afrouxou demais e não mostra a importância que se
deve dar ao conhecimento. Tudo hoje é em torno do “se adequar à realidade do
aluno”, para a educação ter efeito precisa “fazer sentido para o estudante”. O
personagem de Williams mostrava justamente que é necessário algo além das
questões prementes do dia a dia, como nesse trecho de uma de suas lições: “Não
lemos e escrevemos poesia porque é moda. Lemos e escrevemos poesia porque
fazemos parte da raça humana. E a raça humana está impregnada de paixão.
Medicina, Direito, Administração, Engenharia, são atividades nobres,
necessárias à vida. Mas a poesia, a beleza, o romance, o amor, são as coisas
pelas quais vale a pena viver.”
Carpe
diem era o lema recorrente do professor
Keating. Vem do latim e significa “colha o dia”, uma metáfora para “aproveite o
dia”. No caso do filme, significava não somente aproveitar a vida para fazer
coisas úteis, mas era um chamado para que os alunos tornassem suas vidas
extraordinárias. E não vejo forma de tornar a vida dos meus alunos
extraordinária se não ensiná-los a aprender o que eles não sabem e não apenas o
que já sabem, dar um sentido para o que não faz sentido para eles, mostrar-lhes
outra realidade. Isso fez John Keating. Isso fazem artistas como Robin
Williams. Esse é o papel do professor.
Cassionei Niches Petry
– professor
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