Lendo gibis
Fui certa vez, bem
antes da pandemia, com a família ao centro da cidade, mais precisamente à praça
do chafariz, com vista para nossa linda catedral (que encanta até este ateu que
vos escreve) para tomar chimarrão. Um costume comum para as famílias de Santa
Cruz do Sul, mas que para nós é algo raro, em parte porque a minha esposa
trabalha aos domingos, mas também porque não gosto de sair da minha toca, ficar
longe dos meus livros, meus discos e o computador onde escrevo estas linhas e
também é fonte de outras tantas leituras.
O motivo desta
crônica, no entanto, não foi nossa saída de casa, mas sim a reação de um menino
que me viu lendo um gibi que eu aproveitei para comprar na banca de revistas.
“O Tio Patinhas!”, ele disse, admirado, talvez porque um marmanjo estava lendo
esse tipo de publicação (minha filha já havia feito uma brincadeira comigo
quando me viu voltando da banca com o exemplar na mão).
Quem ficou mais
admirado, na verdade, fui eu. O guri deveria ter uns 8 ou 9 anos e brincava com
outro da mesma idade. E hoje não há quase crianças que conheçam histórias em
quadrinhos. Apenas sorri para ele, que logo voltou a brincar com o amigo,
pulando em volta da estátua da praça que mostra uma mãe amamentando seu filho.
Minha formação de
leitor passou pelos gibis que enchiam, além das prateleiras do quarto dos meus
tios, também os olhos do guri que estava aprendendo a ler sozinho. Usufruí o
quanto pude daquele paraíso, já que não podia tê-los. Mais tarde, adolescente,
cheguei a comprar alguns exemplares, mas depois os revendi ou troquei por
livros em um sebo.
Já adulto, retomei
a paixão escondida. Com a internet, baixei vários exemplares que eram meu sonho
de consumo, e comprei outros tantos no mesmo sebo. Só não comprava mais em
bancas porque os desenhos atuais não me agradam muito, principalmente as novas
versões dos super-heróis.
Bem diferente foi o
exemplar da Disney que comprei, que mantém os mesmos traços que marcaram a
minha infância, bem como as histórias mantinha o mesmo teor, em sua maioria
ingênuas e apressadas. Escolhi uma revista com uma história do Professor
Pardal, que sempre me marcou por ser o gênio que eu queria ser. E por ser
chamado de professor, claro.
Já escrevi alguns
textos, inclusive aqui no jornal, sobre HQ’s não tão infantis, como as de Neil
Gaiman, e também sobre a polêmica se elas são ou não literatura. Penso que é um
tipo de arte diferente, que não precisa ser chamada de literatura para comprovar
sua qualidade. A arte sequencial, como é chamada, já é considerada como a 9ª
arte, portanto com o reconhecimento que lhe é devido.
Cassionei Niches Petry
– professor
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