"Voltando a Carácolis", minha crônica na Gazeta do Sul de hoje
Voltando a Carácolis
Escrevi há alguns
anos aqui mesmo neste espaço de opinião um relato sobre a minha visita a
Carácolis, localizado na Antártida, num lugar não avistado pelo Google Earth,
não mapeado pelo Google Street e não encontrado em nenhuma pesquisa do Google.
E se não está no Google...
Mas esse país
existe. Ao que parece, não é bem visto pelas outra nações, apesar da exportação
de caracóis. E aqui estou novamente para descobrir se o coronavírus chegou a
estas bandas. Se ainda não chegou, posso ser o responsável por colocar
Carácolis pelo menos nas estatísticas da OMS.
Cheguei sem as
recepções de praxe, mas encontrei alguns indivíduos pastando na grama com
camisetas que estampavam o rosto do atual mandatário. Na última vez que visitei
Carácolis, era uma mulher que presidia o país, mas ela foi tirada do cargo
porque confundiu, num discurso, caracol com tartaruga, além de ter esmagado,
sem querer, disse ela, o Caracol-vovô, um símbolo do país, atropelando-o de
bicicleta em suas pedaladas pelas ruas da capital.
O vice assumiu até as novas eleições em que
foi eleito o atual presidente, cujo slogan “eu acima de tudo e os burros
embaixo de mim” é dito e repetido até hoje por seus seguidores nos pastos da
nação.
Logo fui
entrevistando os burr..., digo, os indivíduos que me perguntaram para qual
veículo de imprensa eu trabalhava. Quando revelei que era apenas um professor
metido a cronista, acharam que estava mentindo, que a imprensa é mentirosa e
que eu devia estar trabalhando para a Conchalixo, como apelidaram a principal
TV do país, a Rede Concha. Fui escorraçado.
Tive que buscar
informações escondido, me misturando às pessoas que, logo percebi, não usavam
máscaras e se aglomeravam, o que me deu a entender que não existe ainda o vírus
por aqui. Pelo menos ninguém contraiu o Covid-19. Hospedado no hotel, descobri
pela TV que há um outro vírus, o taokvírus, que faz as pessoas comerem grama e
que, por isso, é necessário que todos fiquem em suas casas para não propagar a
doença, chamada de Burrid-17.
Enquanto aguardo o
sinal de internet (tão devagar quanto os caracóis do país) para enviar esta
crônica para o jornal, observo da janela a paisagem, encantado com a grama
verde do pátio do hotel. Não sei por que, mas acho uma besteira isso de ficar
em confinamento. Acho que vou lá fora ver mais de perto essa linda grama.
Cassionei Niches Petry – professor metido a cronista
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