Há esperanças para 2021?

 



(Minha crônica no jornal Gazeta do Sul de hoje.)

Já escreveram ou disseram que se alguém voltasse no tempo, mais precisamente em janeiro deste ano, e dissesse que o mundo iria parar devido a um vírus, que iríamos ficar durante meses em distanciamento social, com as casas noturnas fechadas (nada de baladas!), gravação de novelas globais interrompidas, estádios de futebol vazios (e sem a transmissão de jogos importantes na Vênus Platinada), etc., esse alguém seria ridicularizado, como tantos médiuns são, merecidamente, nas previsões de início de ano. É um ano atípico, para usar um chavão. Aliás, os chavões pululam a todo momento e o que não era chavão acaba virando, como o “novo normal”.

Dois mil e vinte acaba sem nem mesmo ter começado. Mal saímos do Carnaval, em março, o marco verdadeiro do início do ano, pelo menos aqui no Brasil, já iniciávamos o isolamento. A quaresma virou quarentena, gerando bem mais de 40 dias e 40 noites de provação de nossa paciência. Os ovos de Páscoa tiveram um gosto amargo, em maio as noivas adiaram seus sonhos de casamento, as fogueiras das festas juninas, assim como nossas esperanças, não foram acesas, agosto foi realmente um mês de desgosto e, no mês seguinte, a primavera não fez renascer nada, mostrando que o saudoso escritor João Ubaldo Ribeiro tinha razão ao intitular um de seus romances como “Setembro não tem sentido”.

A campanha eleitoral de outubro e novembro escondeu o vírus, que esteve sempre presente, na verdade, se aproveitando do relaxamento nas aglomerações e dos beijos e abraços dos candidatos para se espalhar. Ah, a política! A política que não sabe ainda para que lado olhar, vendo o povo dividido entre os que se preocupam com a saúde e os que se preocupam com a economia.

O resultado está aí. Aumento nos casos de Covid-19, as mortes que não cessam, o isolamento que se torna mais necessário do que no início da pandemia, as brigas nas redes sociais de quem quer sempre ter a razão, alguns governantes que batem cabeça e não encontram a solução e outros que lavam as mãos e menosprezam a doença. Nem as vacinas unem as pessoas. Se o coronavírus tem cura, o vírus da burrice não tem.

Dezembro fecha um ano triste, que não valeu (inclusive deveriam ser anulados os campeonatos de futebol: me nego a reconhecer as derrotas do meu time!). Meus alunos aprenderam muito pouco, o livro que publiquei foi impedido de ter um lançamento decente, isso para só falar das minhas frustrações pessoais. Quase todos fracassamos neste ano, salvo os que lucraram e vão lucrar com tudo isso.

E o pior é que não vejo perspectivas de melhorar as coisas em 2021. Como escreveu Kafka, no começo do séc. XX, mas vale para o séc. XXI: “esperanças há muitas, mas não para nós”.

Cassionei Niches Petry – professor

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