Luiz Felipe Pondé filosofa sobre sexo


Comecei a conhecer a obra de Luiz Felipe Pondé a partir de Crítica e profecia – a filosofia da religião em Dostoiévski, um longo ensaio acadêmico sobre a obra do autor de Crime e castigo. Só depois apareceram na imprensa os seus artigos menos alentados em que o filósofo buscava atingir um público maior para as suas reflexões, sem deixar de lado, no entanto, sua enorme erudição. Surgiu daí o polemista, com pensamentos “de direita”, politicamente incorretos e, por isso, provocativos. É o tipo de escritor que gosto de ler: aquele que nos deixa inquietos, de quem às vezes discordamos, ou fingimos discordar, e outras vezes diz aquilo que gostaríamos de dizer e não dizemos, muitas vezes com vergonha do julgamento dos outros.

Depois de Contra um mundo melhor e antes de A era do ressentimento, Pondé escreveu, em 2012 o Guia politicamente incorreto da filosofia, que se tornou um inesperado best-seller e lhe rendeu uma boa dose de críticas por fugir do que a esquerda dita como cultural e intelectualmente relevante no país. Seguindo a mesma linha, publicou o Guia politicamente incorreto do sexo, que ganha reedição pela Globo Livros com um novo título, Aforismos imorais: para canalhas honestos, em que escreve  sobre os tabus sexuais e sobre como os “chatinhos” e “chatinhas”, segundo o autor, tratam o tema.

A “coletânea de aforismos imorais”, com curtos e irônicos ensaios, buscam rever posições ainda muito conservadoras sobre o sexo e combater a patrulha, principalmente das feministas: “o feminismo não entende nada de mulher”, escreve. O politicamente correto censura nossas atitudes, nossas relações. Busca o bem comum, muitas vezes, porém resultando numa imposição no modo como o indivíduo deve se comportar na sua vida pessoal. “A praga do politicamente correto destrói, no campo do prazer e do afeto, uma miríade de relações microscópicas construídas ao longo de milhares de anos entre homens e mulheres a fim de dar conta dessa insustentável paixão que um tem pelo outro, seja nas suas formas legítimas, como casamento e família, seja nas suas formas ilegítimas, como o adultério e o segredo de alcova.”

Pondé ressalta que a mulher gosta de ser desejada e as que pensam o contrário são as feias, sem atrativos, ressentidas com o sucesso das outras. Ele vê com bons olhos, inclusive, os patrões que contratam as atraentes: “Fazer uma reunião com pernas lindas a sua volta melhora o pensamento, ainda que ignorantes e mentirosos digam o contrário.” E afirma: “Quem não mistura sexo e trabalho deve muito àqueles que o fazem”.

Como todo bom aforista, Pondé nos proporciona frases lapidares que podem ser usadas nas redes sociais: “querer fazer sexo politicamente correto é como querer ser piloto de avião tendo medo de altura”; “pessoas muito limpas não deveriam emitir opiniões sobre sexo”; “fala-se ‘penetrar uma mulher’ porque a anatomia imita a vida do afeto: o amor é a invasão da vida.” A propósito, Pondé também é psicanalista e, por isso, Freud é uma presença constante nos aforismos.

Aforismos imorais: para canalhas honestos não tem a mesma qualidade dos demais livros de Pondé, porém traz boas e bem-humoradas reflexões para mentes inquietas. Goste-se ou não do autor, é uma leitura indispensável para conhecer nossa contemporaneidade e como lidamos com o sexo.

 



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