Cometi a façanha de ler todo o livro “Anjos e demônios”, de Dan Brown. Façanha por ter aguentado quatrocentas e poucas páginas de uma narrativa inverossímil. Arranquei os cabelos todas as vezes que, depois de páginas e páginas de ação, diálogos, e etc., o personagem principal olhava para o seu relógio com o desenho do Mickey e haviam se passado poucos minutos.
O que tem de interessante na história são as discussões sobre ciência e religião, em que pese haver uma clara defesa da segunda, o que faz com que o filme baseado na obra não vá incomodar tanto a Igreja Católica como o fez “O código da Vinci”, apesar do final "surpreendente", por ser ilógico. Gostei também das interpretações dos símbolos, assunto que me atrai sempre. Além do passeio por pontos de Roma onde há vários monumentos, o que me fez visitar várias vezes o Wikipédia.
Aliás, sempre leio com certa desconfiança o Wikipédia, que coloca com destaque Dan Brown em sua página sobre literatura. Ora, se se fizer uma comparação entre as duas principais narrativas do escritor, veremos que ele pega uma fórmula e a segue à risca para escrever um livro de sucesso comercial.
Quem quer ler uma peça da grande literatura, passe longe deste livro. Se desejar apenas entretenimento, é uma boa pedida. Ou espere o filme.

Este trecho de “Anjos e demônios” reforça a minha frase de alguns posts atrás:

“E voltou aos seus 11 anos. Deitado em sua cama na mansão de seus pais em Frankfurt, os lençóis que o envolviam, feitos com o melhor linho da Europa, estavam empapados de suor. O jovem Max sentia o corpo em fogo, uma dor inimaginável torturando-o. Ajoelhados ao lado de sua cama, de onde não saíam já fazia três dias, estavam seu pai e sua mãe. Ambos rezavam.
Nas sombras do quarto encontravam-se três dos melhores médicos de Frankfurt.
- Insisto que pensem melhor! - disse um dos médicos. - Olhem para o menino! A febre está aumentando. Ele está com dores terríveis. E corre risco de vida! Max, todavia, sabia o que sua mãe responderia antes mesmo que ela abrisse a boca.
- Gott wird ihn beschuetzen.
Sim, pensou Max. Deus vai me proteger. A convicção na voz de sua mãe deu- lhe forças. Deus vai me proteger.
Uma hora mais tarde, Max sentia dores tamanhas, como se seu corpo estivesse sendo esmagado por um carro. Sequer conseguia respirar para gritar.
- Seu filho está sofrendo demais - disse outro médico. - Deixe-me ao menos aliviar as dores dele. Tenho na minha mala uma injeção simples de...
- Ruhe, bitte! - O pai de Max fez o médico calar-se sem ao menos abrir os olhos, continuando a rezar.
- Papai, por favor! - Max queria gritar. - Deixe que ele faça a dor parar!
- Mas suas palavras perderam-se em um espasmo de tosse.
Uma hora depois, a dor tinha piorado ainda mais.
- Seu filho pode ficar paralítico - advertiu um dos médicos. - E até morrer! Temos remédios que podem ajudar!
Frau e Herr Kohler não permitiram. Não acreditavam em remédios. Quem eram eles para interferir nos planos divinos? Rezaram com maior intensidade. Afinal, se Deus os abençoara com aquele menino, por que Deus o levaria embora? Sua mãe sussurrou-lhe que fosse forte. Explicou que Deus o estava testando como na história de Abraão na Bíblia, um teste de fé.
Max tentava ter fé, mas as dores eram excruciantes.
- Não agüento ver isso! - disse afinal um dos médicos, saindo às pressas do quarto.
Ao amanhecer, Max estava semiconsciente. Todos os seus músculos contraíam-se em espasmos de agonia. Onde está Jesus? Delirava. Ele não me ama? Max sentia a vida esvaindo-se de seu corpo.
Sua mãe adormecera ao lado da cama, as mãos ainda entrelaçadas em cima dele. O pai estava junto à janela, do outro lado do quarto, vendo o dia clarear. Parecia estar em transe. Max escutava o murmúrio de suas súplicas incessantes por misericórdia.
Nesse momento Max divisou a figura pairando acima dele. Um anjo? Ele não enxergava direito. Seus olhos estavam muito inchados. A figura cochichou em seu ouvido, mas não era a voz de um anjo. Max reconheceu a voz de um dos médicos, o que estava sentado em um canto havia dois dias, sem desistir, rogando aos pais de Max que o deixassem administrar na criança um novo remédio vindo da Inglaterra.
- Nunca vou me perdoar - sussurrou o médico - se não fizer isso. - E, com delicadeza, pegou o braço frágil do menino. - Gostaria de tê-lo feito mais cedo.
Max sentiu uma pequenina espetadela no braço, que mal distinguiu em meio a tanta dor.
O médico então guardou suas coisas em silêncio. Antes de sair, pousou a mão na testa de Max.
- Isto vai salvar sua vida. Tenho muita fé no poder da medicina.
Poucos minutos depois, Max sentiu como se uma espécie de espírito mágico fluísse em suas veias. O calor espalhou-se por seu corpo e amorteceu a dor. Finalmente, pela primeira vez em dias, Max dormiu.
Quando a febre cedeu, seu pai e sua mãe proclamaram que era um milagre de Deus. Mas, quando ficou evidente que o filho estava aleijado, ficaram melancólicos. Levaram-no à igreja em uma cadeira de rodas e pediram que um padre os aconselhasse.
- Foi apenas pela graça de Deus - disse o padre - que esse menino sobreviveu.
Max escutava sem dizer nada.
- Mas nosso filho não anda mais! - chorava Frau Kohler.
O padre sacudiu a cabeça, com ar triste.
- Sim. Parece que Deus o puniu por não ter fé suficiente.”

Comentários

Jorcenita disse…
Li 'O código da Vinci'do mesmo autor, faz algum tempo, e tive sensação similar a que descreves. Como sou vaidosa, poupei meus cabelos. hehehe
Anónimo disse…
Cassionei, não li Anjos e Demônios, apesar de fortemente recomendado... por pessoas que gostam deste gênero de literatura. Confesso que li o Código DaVinci em menos de 2 horas e não o considerei tempo perdido. Me trouxe algumas informações acerca da Igreja que depois fui comprovar em outras fontes.

Confesso que não me atenho somente aos "Grandes" autores e clássicos da literatura. Já encontrei mais do que diversão em livros aparentemente simplórios ou desgastados pela crítica. A questão é, também, saber garimpar nas entrelinhas aspectos que possam ser úteis para o deleite, aprendizado ou proveito de cada um.

Hoje mesmo fiz uma boa revisão em parte da minha biblioteca e encontrei livros que certamente não sou capaz de indicar nem ao meu maior inimigo. Aqueles que são tempo perdido. Ficaria até com vergonha de abandoná-lo em alguma praça. Se fosse cruel, talvez o abandonasse em um banco de praça com o nome e endereço de meu inimigo nele, hehehe.

Abraço fraterno.
Cassionei Petry disse…
Jo,
Tu que és professora de História, devias ler "Anjos e demônios".

Rafael,
Com certeza não foi perda de tempo,aprendi muitas coisas interessantes. O "Da Vinci eu não li, mas li muito sobre ele.
Os detratores deste tipo de literatura não leem estes livros. Quanto aos "não grandes", tenho muitos que gosto.
Obrigado pela "visita", espero que tenha gostado.
Abraço.
Realmente, também acho o Dan Brown um escritor fraco. Apesar disso, gostei do filme sobre o Santo Graal.. tem uma trama inteligente e toca em feridas importantes da Igreja e do poder.

E o Wikipedia.. tem que ser consumido com muita moderação, não há dúvida... Dan Brown como destaque literário é dose...

Abraços

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