Vale repostar

Já que falei sobre o ateísmo, vale repostar este texto que escrevi em março, mandei para Gazeta e, claro, não saiu. Mas foi publicado no blog Bule Voador, que foi extinto.

Lei de deus?

Em meio à discussão sobre a excomunhão dos envolvidos no aborto da menina de 9 anos, estuprada em Pernambuco, o bispo Dom José Cardoso Sobrinho afirmou que a “lei de Deus” é superior às leis dos homens. Superior para quem?

Ora, é típico das religiões imporem sua verdade aos outros. A lei referida pelo bispo está nos 10 mandamentos da Bíblia, livro sagrado dos cristãos, mas não de toda a humanidade. O mandamento “não matarás”, segundo o escritor Janer Cristaldo, “deve ser visto em seu contexto. Jeová o dirige à sua tribo, à tribo de Israel. Não matarás os de tua raça. Não matarás um judeu. Quanto às outras tribos, pode-se matar à vontade, como aliás Jeová ordena diversas vezes no Pentateuco.” É só ler o Antigo Testamento, com as chacinas ordenadas por Deus, para se banhar em sangue. Não é à toa que há edições da Bíblia apenas com o Novo Testamento indicadas para os fiéis, talvez para que não fiquem sabendo que o “Deus de amor” era na verdade um assassino cruel com os outros povos que não o cultuassem.

O que me incomoda, como ateu, são frases do tipo “a humanidade está se destruindo porque falta Deus no coração das pessoas”. Ora, como se a maioria dos atos de barbárie praticados na História da Humanidade não fossem feitos em nome de um deus, ou de vários deuses, não escapando nem a Igreja Católica com sua Inquisição (só para dar um exemplo)! Há vários conflitos religiosos no mundo todo, padres pedófilos, mutilação de mulheres, etc. E quantos assassinos não fazem o sinal da cruz antes de dar um tiro em alguém?

Ser bom, honesto, ético, carinhoso, amoroso, caridoso, feliz, independe de religião ou de crença. A moralidade não nasceu devido a nenhuma inspiração sobrenatural, mas sim porque o homem precisa estipular regras para o bom convívio. Não precisa haver uma crença em punições ou uma ameaça de inferno para praticarmos o bem. Um ateu pode ter todas estas qualidades, bem como o religioso. Da mesma forma, há ateus e religiosos dos quais devemos manter distância.

Penso que todos nascemos ateus. Depois, a família e a sociedade nos “presenteiam” com uma religião (isso, quero reforçar, é apenas uma opinião minha). Nossa cultura é tomada pelo cristianismo. O calendário é um exemplo. Os crucifixos pregados em paredes de instituições públicas como juizados e escolas também não no deixam esquecer que somos frutos de uma religião e que as outras crenças ficam em segundo plano. Se nascemos em uma família com uma determinada crença, fatalmente desde pequenos aprenderemos que essa é a correta. Com o passar do tempo (o senhor da razão) podemos afirmar essas crenças, questioná-las ou buscar outras. É próprio do ser humano querer respostas para suas perguntas. Se são dadas pelas religiões e nos satisfazem, nos confortam, permanecemos com elas. Mas para as mentes mais inquietas, essas respostas geram novas perguntas e assim por diante. O importante é que cada um se sinta feliz com o que acredita ou deixa de acreditar. Procurar a satisfação pessoal, mas sem impor sua verdade aos demais, eis a verdadeira tolerância.

Quanto à chamada “lei de Deus”, ela serve apenas para quem deseja segui-la. As leis dos homens, porém, mesmo com suas falhas, devem ser seguidas por todos. Do contrário, este mundo é que será (ou permanecerá) um inferno.

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