Aforismo nietzscheano

Trabalhei esses dias em uma das minhas aulas de filosofia (das quais estou me despedindo esse ano) com um aforismo do Nietzsche que fecha o livro Aurora - título que remete à claridade no horizonte anunciando o nascer do sol - e que fala sobre a necessidade de voar além:

"Todos esses pássaros audazes, que voam ao longe, ao mais longínquo - certamente! em algum lugar não poderão ir mais longe e pousarão sobre um mastro ou um mísero recife - e, além do mais tão gratos por esse deplorável pouso! Mas quem poderia concluir disso que adiante deles não há mais nenhuma descomunal rota livre, que eles voaram tão longe quanto se pode voar. Todos os nossos grandes mestres e precursores acabaram por se deter, e não é com gesto mais nobre e mais gracioso que o cansaço que se detém: também comigo e contigo será assim! Mas que importa isso a mim e a ti! Outros pássaros voarão mais longe! ... E para onde queremos ir? Queremos passar além do mar? Para onde nos arrasta esse poderoso apetite que para nós vale mais que qualquer prazer? Mas por que precisamente nessa direção, para lá onde até agora todos os sóis da humanidade declinaram? Talvez um dia dirão de nós que também nós, navegando para o Ocidente, esperávamos alcançar uma Índias - mas que nosso destino era naufragar no infinito? Ou, meus irmãos! Ou?"
(Nietzche - Aurora - aforismo 575)

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