Diário de um fracasso anunciado: as angústias da criação (III)


 "Martinique", foto de André Kertész

04/01/12
Entre as angústias da criação, está a angústia da influência. É o título, aliás, de um livro de Harold Bloom. As influências perseguem o escritor. Às vezes é o escritor que as persegue. A sombra sobre mim agora é a de Enrique Vila-Matas, o que lembra a capa do seu livro de contos Exploradores del abismo, ilustrada com uma foto de André Kertész.
Na contracapa do volume editado pela Anagrama, de Barcelona, lê-se que, quando perguntado sobre o que estava escrevendo depois da publicação de Doctor Pasavento, Vila-Matas respondeu: “Escribo el título de un libro”. A partir do título, que tinha a ver com a sensação de estar com um abismo a sua frente depois de terminar seu romance, o escritor catalão começou a escrever os relatos, sempre relacionados ao tema.
Meu romance também começou com um título, citado entre as obras de um personagem que é escritor em um dos contos do meu livro ainda inédito. Escritor que escreveu inclusive um livro de contos cujo título é o mesmo do livro que eu escrevi e também de um livro infanto cujo título é o mesmo do que eu escrevi. Qualquer semelhança com Vila-Matas não é um mero acidente de percurso.
Falando em semelhanças e sincronias, a foto de Kertész também foi usada na capa de um livro de outra das minhas influências. Trata-se de Deixe o quarto com está, de Amílcar Bettega Barbosa, editado pela Companhia das Letras. Escrevi sobre a obra aqui.
Como pode perceber, caro diário, a literatura é “um jardim de caminhos que se bifurcam”, só para citar outra influência, esta não tão grande assim.

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