Gatos, cães e Neil Gaiman no Traçando livros de hoje
“Acho
que vi um gatinho”
Cassionei Niches Petry
Gosto muito de animais de estimação. Aliás, gosto de animais de
uma forma em geral, inclusive de me alimentar de alguns. Mesmo sabendo que eles
podem sofrer quando são abatidos, faz parte da minha natureza ser carnívoro,
vem dos meus antepassados do tempo das cavernas. É engraçado as pessoas se
intitularem bondosas porque defendem os direitos dos animais, muitas vezes
apelando ao deus judaico-cristão, sendo que esse deus poderoso, cujo nome sou
obrigado a ouvir e ler todos os dias, pedia sacrifícios de bichinhos inofensivos
só para que esse mesmo nome ficasse cada vez
mais enaltecido. Está na Bíblia, ora!
Mas não devaneemos. Ou melhor, sim, devaneemos, afinal, este texto
é um devaneio crônico. Cronicar, devanear e ganhar alguns leitores (e perder
outros tantos).
Volto ao começo. Disse que gosto muito de animais de estimação.
Por isso não os tenho. Quem tem algum bicho em casa, deve cuidar dele,
alimentá-lo bem, dar-lhe afeto. Não é o que vejo com relação aos cachorros que
rondam as ruas da cidade, atacando pessoas, principalmente nossos eficientes
carteiros, e rasgando sacos de lixo para se alimentarem, não só de restos de
comidas como também de fraldas e papéis higiênicos usados. As ruas ficam sujas
e os animais acabam transmitindo doenças. Devido a isso, volta e meia aparece
algum maníaco (ou melhor, não aparece, porque se esconde, o covarde) que
envenena os bichinhos. O melhor amigo do homem passa a ser inimigo dele. Por
que as pessoas não cuidam dos seus cães, não os mantém dentro de seus pátios e
não os alimentam como merecem? “Ora”, direis, “manter os coitados presos!” Não
presos e sim soltos, mas dentro dos pátios. É para o bem deles. E nosso.
Se fosse para ter um bichinho de estimação, teria um gato. Como
sempre, porém, sou voto vencido aqui em casa, pois a patroa e a minha pequena
querem um cachorrinho. O gato é um ser misterioso. Se os cachorros passeiam
pelas ruas, os gatos preferem os telhados e muros. Se enxergamos tudo o que os
cachorros fazem (inclusive cenas constrangedoras de sexo explícito), os gatos
são mais discretos. Se sabemos os passos dos cães, não sabemos os dos gatos.
Por onde andam durante a madrugada, o que fazem?
Imagino sempre um complô dos bichanos, como na história Um
sonho de mil gatos, escrita
por Neil Gaiman, com ilustração de Kelley
Jones, para a série de HQ Sandman (Editora Conrad). Em tempos
remotos, os felinos governavam o mundo e dominavam os minúsculos homens. Um
líder dos homúnculos reuniu seus pares, incentivando-os a sonhar com um mundo
diferente. E conseguiram. Agora, é um líder felino que reúne na madrugada seus
pares e os exorta a sonharem com um mundo em que eles voltariam a ser
superiores.
Gosto muito de animais. Por isso meu santo padroeiro, quando era religioso,
foi São Francisco de Assis. Acontece que, muitas vezes, quando eu caminhava e
algum cachorro se aproximava, eu rezava para que o santo me protegesse. Nunca
tive as preces atendidas e recebia mordidas no calcanhar e nas pernas. Os
gatos, por sua vez, me miravam de longe, com aquele olhar peculiar de mistério,
talvez pensando: “deixa estar, humano. Logo, logo serei eu no seu lugar.”
Cassionei Niches Petry é mestrando em Letras e
bolsista do CNPq. Gostava de assistir ao desenho do Piu-piu e Frajola, de onde
tirou a frase que dá título a esse texto. Quinzenalmente escreve para o Mix e
mantém o blog cassionei.blogspot.com
Comentários
Abraço!
Talvez vc saiba que gosto muito de animais e minha profissão é inspecionar a morte de vários deles por dia. Fiquei imune às consequências desse paradoxo por muitos anos, até que alguma luz se acendeu (ou se apagou) e eu deixei de comer carnes vermelhas.
Sobre quadrinhos, gostava muito do Sandman do Gaiman, do Watchmen do Moore, dos graphic novels do Miller, mas isso foi me torrando a paciência. É um mercado que exige um tietismo exagerado de participar de feiras, de encontros de fãs; desperta um consumismo exacerbado e, em decorrência, a frustração por não se poder ter tudo de quadrinhos.
ariverai ledindin
São as palavras que surgiram para autentificar o comentário. Musicais, né?
Mas sobre o que eu disse de eles não se acasalarem na frente das pessoas.
(O que sei é que o pênis do gato tem pequenas projeções espinhosas na glande, que é uma das causas do fuzuê todo da fêmea.)