Segundo acorde
Minha filha me põe a
par do que acontece de lançamentos, novos autores, tanto da boa quanto da má
literatura (que ela lê, porém sabe que não é uma literatura que se deva
respeitar). Compra os livros pela internet, instrumento que eu pensava, quando
começou a se tornar mais popular, fosse acabar com a literatura. Não me enganei
totalmente, porém dá sua parcela de contribuição para que a arte não morra.
Foi ela, minha
filha, quem insistiu para que eu criasse este blog como uma maneira de
desengavetar, das gavetas da escrivaninha e do meu cérebro, tudo o que escrevi
ou apenas esbocei durante anos e anos. Minha admiradora (única, por sinal), me
diz que eu não posso ser egoísta e ficar com todo o conhecimento que adquiri só
para mim. Como professor, não consegui compartilhar com os alunos nem 5% do que
poderia, não por culpa minha, claro. Se fosse por mim, formaria excelentes
leitores de literatura e filosofia. A escola, porém, tem outros interesses. Não
quero falar sobre isso. Essa parte da minha vida, que somente me deu o sustento
necessário para sobreviver, já passou e foi devidamente jogada no vaso
sanitário, como já escrevi ontem.
“O próximo passo”,
disse ela, “é o senhor entrar em alguma rede social. Posso criar um perfil no Facebook
e no Twitter para o senhor, pode ser até um fake”. Explicou-me o que seria o
tal do “fake”, eu tinha vagamente uma ideia do que seria. Logo me veio à mente
tantos e tantos escritores e críticos que usaram pseudônimos. Ou heterônimos, no
caso do Fernando Pessoa. Não foi uma má ideia. Por isso resolvi usar o nome
falso também no blog. Meu nome não é Júlio Nogueira. Desafio alguém a descobrir
por que o estou usando.
Passei agora a também “navegar”, como dizem,
pela internet para ver o que estão escrevendo sobre literatura. Descubro coisas
boas, outras nem tanto. Descubro, por exemplo, que alguns críticos dos jornais
também escrevem na web. “Navegar é preciso”, e o pessoal parece que levou ao pé
da letra os versos de Pessoa. Alguns também têm perfil nas redes sociais,
outros ainda resistem, mas são bem poucos. Quem não está na rede não existe,
foi o que li no “status” de um crítico do jornalzinho da cidade onde hoje moro.
Vou passar a existir, portanto. Antes apenas passava pela terra cumprindo algo
que... não, não vou falar sobre isso de novo.
Hoje é domingo, são oito
horas da manhã. Já escuto os sinos da igreja próxima tocando. Em outra época da
minha vida já estaria ajoelhado e rezando em frente ao altar. Hoje meu altar é
outro. A literatura é minha crença e a ela devo devoção (que minha esposa não
leia isso e sei que ela não vai ler). Iria publicar uma primeira crítica
literária, mas vou deixar para segunda. Não estou a fim de me ler hoje. Sim,
pois somente eu vou ler o blog, me parece. E minha filha, claro, se é que ela
não está, em surdina, divulgando este espaço e você, caro leitor desconhecido,
não tenha encontrado a garrafa jogada nesse mar. Cuidado ao abri-la.
Júlio Nogueira
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Abraço