Reflexões daqui de cima do muro
Nem as manifestações do dia 13 de março, nem a do dia 18 me
representam. Avesso que sou a aglomerações de pessoas, não iria a nenhuma. Em
outros tempos, iria, talvez, na dos vermelhos, como fazia na minha
adolescência, em protestos, cantando “rap” contra o capitalismo com uma
estrelinha no peito.
As manifestações, tampouco, representam o povo brasileiro,
pois ele está dividido, como mostraram as eleições, apesar de muita gente ter
se arrependido de votar no governo que aí está. O que se vê são pessoas que, em
sua maioria, seguem uma ideologia política e econômica e, dificilmente, mudam
de opinião. É visto como positivo ser “coerente”, lutar até o fim da vida por um
ideal, mesmo que isso signifique defender um governo corrupto ou defender a
volta de partidos que também são corruptos.
O que não se pode negar é que, no dia 13, as manifestações
não levantavam bandeira de partidos, de sindicatos e, da mesma forma, os manifestantes não estavam uniformizados. A camiseta da seleção brasileira, em que pese
ser da CBF, outro antro cheio de corruptos, é representativa de certo ideal
patriótico (do qual não sou muito fã), pois traz as cores da bandeira. No dia
18, a cor vermelha predominou. A cor não era da nação, mas dos partidos e
sindicatos.
Não é que não goste do vermelho, afinal sou torcedor do
Internacional de Porto Alegre. Assistindo a tudo em cima do muro, porém (e eu
assumo que estou em cima do muro, pois não consigo compactuar com nenhuma das
ideologias), no dia 13 vi a defesa do Brasil e no dia 18 a defesa de um governo.
Na verdade, de um partido, ou pior, de um homem, visto como herói, um deus (e a
barba agora branca ajuda na imagem), que por ser deus é perfeito e, mesmo com
todas as evidências contrárias a ele, seus fieis creem nele, creem na sua
palavra, creem na sua volta. É o Messias.
A esquerda me ensinou a não baixar a cabeça para os
poderosos, a não ser massa de manobra, a combater a corrupção, a lutar por
igualdade. Hoje ela me mostra que faz a mesma coisa que antes condenava depois
que tomou o poder. “O poder corrompe”, frase atribuída ao John Acton, é repetida
muitas vezes nesses casos. Questiono, porém, se não é o homem que corrompe o
poder.
O problema maior é apoiar quem assim age, é defendê-lo cegamente,
é colocar a mão no fogo por quem depois não vai apagar as chamas. Quem defende
o “não vai ter golpe” pode estar sendo massa de manobra que vai ajudar a
implantar outro golpe, está se ajoelhando para quem está no poder, está do lado
dos corruptos, está comprovando a frase de George Orwell de que todos são iguais,
mas alguns são mais iguais do que outros, estão acima do bem e do mal.
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