Contos de espera


Marcio Renato dos Santos é um contista da experimentação. Manipulador da linguagem, suas histórias são escritas com estilos diferentes. Ora temos frases curtas, como nos primeiro textos de Minda-au, sua primeira coletânea, de 2010, conforme podemos ler no primeiro parágrafo de “O espírito da floresta”, uma de suas melhores criações (ou recriação, neste caso da fábula de Chapeuzinho Vermelho): “Ele continua por ali, apesar de quase ninguém ver. Asfalto. Casas. Prédios. Barracos. Luz elétrica. Automóveis. Fumaça. Resíduos. Humanos a caminhar. Humanos parados. Humanos empilhados. E seu tempo. Humanos nos templos. Humanos pagãos. E ele continua. Onipresente.” Já no livro Golegolegolegolegah!, de 2013, as frases são mais longas, esparramadas como o título. Reparem que os títulos das obras do escritor paranaense também são experimentais e chamam nossa atenção. Mais laiquis, de 2015 e 2,99, lançado em 2014, completam a galeria de títulos curiosos.

Já o seu mais recente lançamento, Finalmente hoje, traz um Marcio Renato dos Santos diferente sendo ele mesmo, como muito bem destaca Ernani Ssó na orelha do livro. Publicada pela editora Tulipas Negras, de Curitiba, a obra tem uma linha narrativa dividida em seis partes, propondo uma unidade dos contos a partir da passagem do tempo e a espera de que algo possa acontecer ou agora, quem sabe daqui a pouco ou nunca mais ou então antes ou em outro momento, quem sabe hoje, em 2016.

Personagens comuns que almejam algo ou apenas esperam são a tônica das histórias. No conto “Pimenteira”, o engenheiro Péricles deseja a vaga de superintendente de uma empresa, e mantém em sua casa um pé de pimenta que cuida com extremo cuidado, molhando com todo carinho para que não seque, “em busca de um bloqueio para o mau-olhado. Em “Enviar uma carta”, o jovem Anderson espera poder despachar uma correspondência em uma fila interminável da agência postal, porém depois se vê em uma agência bancária e então... bem, leia o conto, que guarda uma impressionante surpresa.

No conto-diálogo “Feliciano é meu pastor e nada me faltará”, que não tem relação (ou tem?) com o deputado evangélico, o funcionário Jair delata seus colegas de trabalho para o chefe e amigo Feliciano, que depois os demite. O que Jair não espera é que o outro não seja tão mui amigo como ele pensava. “O segredo do casamento”, por sua vez, revela a filosofia de um taxista: “ – O segredo da vida é casar com uma mulher feia.” O passageiro, porém, espera que ele não esteja certo, pois sua mulher é linda.

Há outros personagens que esperam: o homem na fila do ônibus que vai ao Jardim Paraíso; o aluno que, quase mijando nas calças, espera a permissão da professora para ir ao banheiro; o cantor que deseja uma plateia lotada e ao mesmo tempo a aprovação de um crítico musical. Marcio Renato dos Santos, por seu turno, espera que você conheça o seu livro, caro leitor, e também deseja o aval da crítica. Se for relevante, minha aprovação ele tem

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