Sobre “O país do carnaval”, de Jorge Amado
Lúcio Cardoso,
Raquel de Queirós e Jorge Amado escreveram seus primeiros romances entre os 18
e 19 anos de idade. Inveja é o sentimento que me corrói nessas horas. Sobre Maleita, do primeiro, já escrevi aqui no
blog. Sobre O quinze, da segunda,
escreverei em outra oportunidade. Sobre O
país do carnaval (Companhia das Letras, 176 páginas), do terceiro, deixo aqui
meus pitacos.
Jorge Amado é o
escritor brasileiro mais popular de todos os tempos. Por mais que Paulo Coelho
tenha alcançado vendas superiores e é mais traduzido do que o baiano, o autor
de O alquimista não é necessariamente
popular, até porque a obra de Jorge Amado teve inúmeras adaptações para o
cinema e a TV, algo que o mago não conseguiu ainda. Dito isso, vale ressaltar
que, mesmo sendo um best-seller, Amado
escrevia literatura de qualidade, com altos e baixos, é verdade, mas ele
procurava fazer arte com sua escrita, salvo quando escorregava para o panfleto
político em alguns romances.
Seu primeiro livro é
muito ruim do ponto de vista estrutural, mas guarda alguns trechos memoráveis.
Meu julgamento às vezes usa como critério o número de marcações que faço nas
páginas, sublinhando frases exemplares ou enlaçando trechos que nos fornecem
uma boa reflexão. Meu exemplar de O país
do carnaval está repleto de “post-its”.
No enredo, temos um
jovem intelectual, Paulo Rigger, que, depois de estudar na Europa, volta ao
Brasil aportando no Rio de Janeiro em pleno carnaval. “E notou que todos se
beijavam e todos se apalpavam. Era o carnaval... Vitória de todo Instinto,
reino da Carne...” É o início dos anos 30, tempo de profundas mudanças na
política brasileira. Já na Bahia, o jovem se aproxima de um grupo de amigos,
literatos como ele, e fundam um jornal. Boa parte da história é composta pelos
diálogos e debates entre os amigos. Além de política, discutem sobre
literatura, filosofia, religião, felicidade, amor. É nesse último tema que
Rigger se sente frustrado, pois, quando se apaixona, acaba deixando a amada
porque ela não era mais virgem. Mesmo querendo ser um sujeito moderno, de mente
aberta, acaba preso ao convencionalismo e aos costumes arcaicos e deixa a
felicidade escapar de suas mãos.
Romance de estreia,
já obteve sucesso na largada, colocando no mapa da literatura, naqueles
fecundos anos 30, um escritor que se tornaria o mais amado do Brasil, com o
perdão do trocadilho já bastante batido.
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