Críticas distorcidas só atrapalham


Há um vídeo que circula pelas redes sociais em que Donald Trump, segundo as legendas, estaria demonstrando todo seu racismo. Na ponta de um banco de uma igreja, ele aguarda a passagem de religiosos e os cumprimenta, dando-lhes a mão. Quando passa um religioso negro, não acontece o mesmo. No entanto, se prestarmos a atenção, vemos que o homem é quem não olha para Trump e também não lhe estende a mão como o fazem os demais. Quem não quis cumprimentar foi o religioso, talvez justamente considerar o presidente americano um racista.
Entretanto, esta cena, que dá margem a uma interpretação ambígua, é cortada nesse ponto. Outra postagem mais completa do vídeo nos faz ver que, na sequência, Trump sai da sua posição e se dirige a outras pessoas para cumprimentá-las, entre elas um negro, que o faz todo feliz, sendo correspondido da mesma forma. Pode-se dizer, então, que estamos diante de uma tentativa sem limites éticos de rotular uma pessoa, ainda que ela mereça o rótulo.
Quando se quer criticar alguém e estabelecer uma narrativa que comprove os argumentos, a seletividade ideológica mostra como somos maus na nossa essência. Há tempos desisti do ser humano. Por isso não confio em ninguém, salvo nas pessoas muito próximas a mim que não me deram, ainda, motivos para duvidar delas. A narrativa que nos vem dos Estados Unidos é extremamente tendenciosa e contraditória. Se fizermos o exercício de pensar em algo como “e se fosse o contrário?”, perceberemos claramente isso. O que diriam esses críticos seletivos se Obama não cumprimentasse uma pessoa que passou por ele? Seria por preconceito ou apenas distração? 
E mais: num artigo desta semana, o jornalista português João Pereira Coutinho comenta sobre o estilista que se negou a vestir Melania Trump. E se outro estilista tivesse se negado a vestir Michelle Obama, o que aconteceria? Do que ele seria chamado?
Lembro-me das “dancinhas” protagonizadas pelo casal Obama, das músicas que o ex-presidente cantou em programas de televisão – a maioria de humor –, dos “raps” protagonizados por Michelle, os dois arrancando aplausos e elogios de seus admiradores por serem despojados, fugindo da seriedade protocolar do cargo. Já Trump é criticado por ter sido protagonista de um reality show (e muitos desses críticos aqui no Brasil admiram um deputado que se tornou conhecido justamente num programa desses), é ridicularizado pelas suas participações em filmes e, com certeza, viraria chacota se tentasse cantar alguma música ou dançasse na TV. E espero que nunca o faça, porque eu riria dele também.
Outro ponto contraditório está na crítica à construção do muro, que na verdade é a continuação de um já existente, iniciado, acreditem, pelo apoiador de Obama, Bill Clinton, em 1994. Obama, por seu turno, não demoliu o tão discutido muro, e ninguém o criticou por isso. Ele também negou, a poucos dias do fim do mandato, a entrada de refugiados cubanos nos EUA. Foi criticado pelos que hoje criticam Trump por não aceitar refugiados?

Tenho minhas reservas em relação a Donald Trump. Não gosto de tipos como ele no poder de uma nação. Aliás, não venho gostando de ninguém que tem o poder em qualquer instância. Causa-me desconforto, porém, quando as críticas são desmedidas, seletivas, distorcidas e mal-intencionadas. Isso não contribui com o debate, não melhora a situação e depõe contra quem se julga o dono da razão. Poderia apontar as críticas distorcidas que estão acabando com nosso país, mas é assunto para outro artigo.

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