Super-heróis ou vilões?
Na minha infância,
os super-heróis eram presenças marcantes. Dos gibis das estantes dos meus tios,
passando pelos desejados bonequinhos (que me serviram de inspiração para um
conto do meu novo livro, Cacos e outros
pedaços, publicado pela Editora Penalux) até chegar aos desenhos da TV,
esses seres poderosos eram meus ídolos. Muitas vezes quis ser um deles. De nada
adiantava, porém, cobrir meu rosto com aqueles saquinhos quadriculados da
feira, pois não me transformava no Homem-Aranha. Tampouco amarrar um lençol no
pescoço me fazia voar como Superman. Andar de calça comprida e sem camisa não
me metamorfoseava no Incrível Hulk (só me causava resfriado). Empunhar uma
marreta, então, nem sonhando me tornava um Thor (mas provocava sérias dores
quando a deixava cair no pé).
Voltei à infância esses
dias ao assistir a um desses filmes “arrasa-quarteirões” que vêm sendo
produzidos nos Estados Unidos e que recriam os universos criados pela Marvel e
pela DC Comics. (Minto: na verdade, com a internet, nos últimos anos venho
relendo HQ’s e assistindo a desenhos como “A Liga da Justiça”, mas não contem
isso pra ninguém, ok?) O filme é Batman vs
Superman: a origem da Justiça, que mostra uma batalha entre os dois grandes
heróis, que depois se juntam para “salvar a humanidade”.
Pois o meu olhar adulto
e afeito a “filosofices”, recai justamente sobre a questão do “salvador”.
Batman é aquele que representa o ser humano comum que se utiliza das próprias forças
para fazer algo relevante para os outros, motivado, porém, por uma vingança
pessoal. Superman, por sua vez, é a ajuda que vem de outro mundo, tem poderes
extraordinários e ouve de longe os pedidos de socorro como se ouvisse o apelo
de uma oração. A disputa entre ambos nos faz pensar justamente sobre nossa
realidade. Quem será nosso salvador? O cidadão comum ou um messias? Devemos apenas
esperar pela providência divina ou devemos, para usar de um clichê, “arregaçar
as mangas” e mudar situação crítica que vivenciamos?
Depositamos nos
políticos a solução para os nossos problemas, afinal são nossos representantes.
Eles, no entanto, nos decepcionam, pois esperamos deles algo que não podem
fazer e também, claro, porque muitos se tornam os vilões, fazendo o contrário (e
bem ao contrário) do que queremos. Os políticos, entretanto, são o nosso
espelho. Fernando Henrique Cardoso, Lula, Dilma, Temer, Dória, Sartori, Telmo, Aécio,
Marina, Bolsonaro, Obama e Trump somos nós. No dia a dia, somos corruptos,
manipuladores, incoerentes, injustos, preconceituosos, racistas, homofóbicos,
machistas. Também construímos muros. Somos seres humanos e, portanto, falhos.
Os políticos também. Se eles são a encarnação do mal é porque também somos. Se são
os super-vilões, é porque também somos.
Temos que fazer um mea culpa, mudar nosso comportamento no
cotidiano, parar de acreditar em políticos de todos os partidos, não defender
nenhum deles. Não há super-heróis no meio deles, não há salvador. Devemos também
parar de fingir que somos super-heróis e realmente nos tornarmos um. Como
desisti do ser humano, sei que isso não vai acontecer. Eu até me tornei um
Batman, no entanto não por lutar com minhas forças, mas sim porque vivo
enfurnado na minha “batcaverna”, lendo e escrevendo. Sou humano, sou falho.
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