Que alunos queremos formar?
Meu texto no jornal Gazeta do Sul de hoje.
Se por um lado há
certas forças que tentam transformar a educação apenas em preparação para o
trabalho, ou pior, em mão de obra barata para o mercado, por outro há forças
que querem a educação formando apenas cidadãos críticos, na verdade massa de
manobra de políticos, intelectuais e sindicatos. Ambos os lados não se
preocupam com o ensino, com conhecimento, com cultura. Importa é utilizar na
prática o que o aluno aprendeu em sala de aula.
Sempre que
ideologias, seja de direita seja de esquerda, impõem suas visões de mundo no
âmbito escolar, a educação não decola. Como são as ideologias que comandam o
mundo, o avião permanece na pista do aeroporto esperando reparos, ainda muito
longe de levantar voo. Vez ou outra ele parte, mas precisa descer logo em outro
aeroporto ou voltar para o anterior, pois o combustível não foi suficiente,
questão de corte de gastos, sabem como é. Avião novo, nem pensar, tendo em
vista que é necessário seguir modelos já existentes e que deram certo em outros
lugares. E assim seguimos, parados.
A mudança atual do
Ensino Médio, por exemplo, já erra de cara por tentar mudar apenas esta etapa
escolar, enquanto o Fundamental também vem claudicando há tempos. E o erro não
é por estar no poder um governo de direita (que na verdade não é), pois o
partido de esquerda que estava antes no comando vinha acenando com a mesma
medida. Agem de má fé os que estão criticando a mudança agora e não o faziam
antes. Por isso, repito, a educação não melhora, pois os argumentos para as
críticas são sempre acompanhados de motivos partidários.
As mudanças nos
últimos anos falham porque ignoram que a função da escola deveria ser, no meu
ponto de vista, guiar o aluno ao conhecimento do que a humanidade fez de bom e
de ruim em todas as áreas do saber para depois ele construir se próprio
caminho. Ele precisa sim saber, por exemplo, sobre grandes obras da literatura,
mesmo que depois nunca vá “aproveitar esse conhecimento na sua vida”, como se
pensa erroneamente. Se o professor não “deposita” no aluno esse conhecimento
(Paulo Freire foi o grande crítico do que chamava de “educação bancária”, um de
seus muitos equívocos), será escamoteada a possibilidade de o jovem descobrir a
beleza dos livros.
Pensar, portanto,
num ensino técnico ainda no Ensino Médio tem um objetivo prático, uma vez que
visa preparar o jovem para o mercado de trabalho. Acredito que a educação não
deveria ter essa função, ou pelo menos não tê-la como principal. Tampouco
deveria formar o jovem para ser crítico, pois isso ele pode ser por si próprio,
a partir das reflexões sobre as ideias que são apresentadas em aula. Para isso,
porém, deveria ser apresentada uma pluralidade de ideias, o que não acontece.
Mas aí é tema para outro artigo.
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