Morre o escritor argentino Abelardo Castillo
“A literatura, pelo pouco que
sei dela, nasce quem sabe de uma forte tendência à incomunicação ou à má
comunicação. Um escritor de ficções é alguém que na vida cotidiana muito
raramente pode comunicar o que sente, seus medos, suas admirações, suas paixões,
seu amor. É algo assim como um olhar de surpresa ante o real de que falavam os
gregos: o que ao filósofo lhe permite refletir e, ao escritor, escrever. O
único lugar onde um homem que escreve se comunica é em seus livros, e são suas
personagens que falam por ele.”
Este trecho pertence ao livro “Ser
escritor”, de Abelardo Castillo, escritor argentino que morreu nesta
segunda-feira. Uma das grandes descobertas literárias que fiz nos últimos anos,
pois ele não é traduzido por aqui. Aliás, a tradução do trecho acima é minha e
cheguei a planejar a tradução de seus contos, gênero em que foi um mestre.
Contos como “El marica”, “Fermín”, “La madre de Ernesto” e tantos outros
merecem ser conhecidos pelos leitores brasileiros.
Além de vários livros de
contos, foi também autor de romances, como El
que tiene sed, peças de teatro e o Diário, cuja primeira parte, cobrindo os
anos de 1954 a 1991, já mencionei aqui no blog.
Coincidentemente, Castillo
morre um dia depois de Belchior. Ambos foram apreciadores de cachimbo.
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