Notas de leitura sobre Dias perdidos, de Lúcio Cardoso
Dias perdidos, de
Lúcio Cardoso, foi publicado em 1943 e gira em torno de uma família em ruínas a
partir do nascimento de Sílvio, o protagonista. Clara e Jaques divergem sobre a
cor dos olhos do filho e sobre o nome. Logo o pai decide ir embora, não pela divergência
do casal, mas em busca de certa liberdade. É mais um personagem inspirado no
pai do próprio escritor, Joaquim (Jaques é o seu equivalente francês, se não
estou equivocado), nome também do protagonista de Maleita, de 1934.
A relação conflituosa com o
pai é um tema. Acredito, porém, que a doença de viver é o grande mote do
enredo. Sílvio doente quando criança, o melhor amigo, Camilo, com uma doença
incurável e que morre cedo, o pai que volta doente depois de anos fora de casa,
a namorada Diana, carioca que vai à pequena cidade para tentar melhorar da
doença herdada de sua mãe (não nos fica claro qual é), a irmã de criação de
Clara, Áurea, que se torna uma empregada da casa, esbanjando saúde, mas vai
perdendo gradativamente a visão, por fim a própria Clara acaba sofrendo com um
câncer nos seios. Sem falar das investidas do farmacêutico em cima da
abandonada Clara, que o repele, simbolizando, na minha leitura, a recusa em
buscar uma cura para essa doença de viver.
Destaco aqui algumas
reflexões dos personagens sobre a vida:
“Não é viver que é difícil
(...), é viver com nossos semelhantes.”
“(...) a vida é um
acontecimento que atravessamos de olhos fechados, sem consciência da sua
profundidade, num esforço para esquecer a origem e jamais lembrar do fim.”
“Tudo se repete, a vida é uma
cadeia de acontecimentos já vividos, de emoções já experimentadas, de gestos
esboçados a muito, no silêncio e na sombra de existências consumadas.”
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