Notas de leitura sobre Pájaros en la boca, de Samanta Schweblin
Saí impressionado da leitura deste livro de contos da
escritora argentina, uma das grandes revelações de um país já cheio de gênios
contistas. As narrativas têm como norma causar estranhamento no leitor. O
primeiro conto, “Irman”, não foge disso. Num bar de beira de estrada, duas
pessoas são recebidas por um anão que não pode atendê-los a contento, pois a
mulher que lhe alcançava os produtos necessários para a elaboração do cardápio
está estirada na cozinha, provavelmente morta, e eles tentam de várias formas terem seus pedidos atendidos.
Em “Mujeres desesperadas”, noivas são abandonadas pelos maridos
em uma banheiro de beira de estrada. “En la estepa”, um casal sente inveja
porque seus vizinhos conseguiram adotar um ser, cuja misteriosa origem e
fisionomia não nos é revelada. No conto seguinte um personagem perde velocidade
e em outro há um buraco interminável sendo cavado.
Em outro conto um pintor expõe quadros em que cabeças são
golpeadas no asfalto. Em “Matar un perro”, a prova para um criminoso ser
admitido em uma organização é matar cachorros a pauladas. São dois contos
violentíssimos.
O conto que dá título à coletânea lembra “Carta a uma
senhorita em Paris”, só que às avessas. Se no conto de Cortázar a personagem
vomita coelhos, a personagem de Samanta Schweblin engole pássaros. Mas o melhor
conto é “Hacia la alegre civilización”, em que um homem não consegue trocar uma
passagem de trem e se vê preso na estação. Não conto mais para não estragar as
surpresas (se alguém estiver me lendo, por acaso, pois este texto era para ser
apenas uma nota de leitura) e o estranhamento do enredo.
Há uma edição brasileira do livro que, infelizmente, não
teve a repercussão que merecia por aqui. Seu romance Distância de resgaste, no entanto, está tendo um tratamento
diferente. Em outros países, Samanta Schweblin vem atingindo a aceitação de
crítica e público. Um nome para se acompanhar.
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