Aceitar nosso destino?

 



 

“Ai de mim! Ai de mim”, repetem “ad nauseam “os personagens das tragédias gregas, títeres dos deuses e do destino. O sofrimento e a resignação que estamos vivendo (no momento em que escrevo este texto são mais de 200 mil mortes causadas pelo coronavírus no Brasil) são uma constante na obra dos dramaturgos Sófocles, Ésquilo e Eurípides.  Este último, por exemplo, escreveu a peça “Alceste”, em 438 a. C., que traz a história da mulher que entregou sua vida aos deuses em troca da sobrevivência de seu marido, o rei Admeto.

Segundo o mito em que se baseia a obra, Apolo foi punido por matar os ciclopes que forjaram o raio de Zeus que matou Asclépio. Para tanto, foi encarregado de servir durante um ano a um mortal. Escolhendo Admeto, consegue convencer as Moiras (ou Parcas, na mitologia romana, divindades que controlam o destino, tecendo e cortando o fio da vida) a não interromperem sua existência no dia destinado a ele. Elas aceitam o pedido, desde que outra pessoa se oferecesse para morrer em seu lugar. Admeto pensava que algum servo ou seus próprios pais se sacrificariam, mas não o fazem.

Alceste, esposa fiel, decide ser a vítima, e a peça começa justamente no dia em que Thânatos, a Morte, vem cumprir com sua obrigação. Apolo ainda tenta fazer com que a rainha se livre, mas sem sucesso. O destino está selado. “É mister que te conforme com a desgraça”, diz o coro ao rei. “Feliz ou não, que cada qual tenha o seu destino”, diz seu velho pai, a quem Admeto renega por não ter se oferecido para morrer.

Nesse meio tempo, no entanto, aparece Héracles (Hércules, para os romanos), em viagem para realizar mais um de seus 12 trabalhos. Para não ferir a lei da hospitalidade, Admeto esconde a morte de Alceste, caso contrário o herói iria embora. Quando descobre a verdade, depois de beber e fazer festa enquanto os criados estavam tristes, Héracles tenta buscar no Hades a rainha, como reconhecimento ao ato do anfitrião. Se irá conseguir? Sugiro que leiam a peça para conhecer o desfecho.

O que me inquieta nessas tragédias e na mitologia grega é a questão do destino, do fado, das Parcas ou Moiras e das predições dos oráculos. Os mortais tentam driblar o destino, quase sempre inexorável. Há, às vezes, algumas brechas, ou estariam elas já pré-determinadas justamente pelo fado? Não acredito em destino, não há nenhuma força superior que tenha um plano para nós. Nas artes, porém, o tema é sempre instigante e gera obras-primas que nos fazem, pelo menos, refletir e entender nossa existência neste mundo tão caótico.

Cassionei Niches Petry – professor

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