Mitos e ritos das festas de final de ano (parte I)
por Cassionei Niches Petry
Na antropologia, diz-se que o mito precede o rito. Lembro dessa frase quando faço uma reflexão sobre as festas de final de ano. Por que se comemora o Natal? Por que se realizam todos os rituais da virada?
Falemos primeiro sobre o Natal. Época em que se lembra muito do nascimento de Cristo e se critica aqueles que pensam apenas na questão comercial. Quando era religioso, levava muito a sério tudo isso e tinha convicção de que realmente Jesus nascera nesse dia. Porém, tudo não passa de um mito. Esse período de festas já existia muito antes. Corresponde às celebrações do solstício de inverno no Hemisfério Norte e a Igreja “cristianizou” essas antigas festas, que passaram a ser consideradas pagãs. Na Roma antiga, a celebração era em honra a Saturno, deus da agricultura e da justiça. Para os chineses, esse período é chamado de dong zhi, que significa “a chegada do Inverno”. Para os persas, o deus Mitra também teria nascido nesse período do ano (aliás, sobre esse deus, há muitas semelhanças com o mito de Jesus Cristo, mas esse é um assunto para outro artigo).
Quando vejo os religiosos reprimindo as pessoas que só pensam nos presentes e impondo o Natal como festa cristã, percebo mais uma vez o quanto as religiões conseguem estabelecer seus dogmas como verdadeiros e o rebanho (palavra exata para designar quem segue as crenças cristãs) apenas reproduz sem conhecimento. Prefiro o Natal apenas com a figura simbólica do Papai Noel, “distribuindo” presentes e ensinando as crianças a obedecerem a seus pais. Penso no Natal como época de nascimento sim, não de um homem filho de um deus, mas da esperança de homens e mulheres que passaram por dificuldades durante o ano e querem buscar novas forças para o que está por vir. Daí a importância de se reunir com a família, que dará a força necessária para esse renascimento.
Comentários
Hnf, nem comemoro o Natal, mesmo. Aceito os presentes, toda aquela comida e, no demais, abstenho-me.
P.S: Aprecio as obras de Goya.
Mesmo não me considerando um crente de qualquer religião institucionalizada, gosto de pensar que por de trás do Natal, como mencionas, há densas e complexas relações com diversas marcações de acontecimentos e ciclos históricos e “cósmicos”. Entretanto, toda essa correria atrás de presentes, comidas e bebidas me enerva. Parece que estamos a obedecer uma ordem de aceleração do consumismo dada pela indústria & comércio S.A. – justamente numa época que deveria ser “espiritualizada”. Nem as mais poderosas igrejas cristãs parecem frear o furor às lojas, ao endividamento, à comilança... Resta uma ressaca de vazio, uma mediocrização da existência; nenhuma epifania ou poesia parece brotar... Se salva, acho eu, o encontro das famílias, amigos e as festas que fazem as pessoas se sentirem mais próximas.
Verdade, não devemos satanizar qualquer coisa. É mais um desabafo com esse furor de compras com o qual o Natal se confunde - como se vê, aliás, nas ruas do centro de Santa Cruz. Um inferno! Ops!!! Hehe!!
Abração!