Sábado de manhã serve pra isso
Às vezes me questiono por que sou professor, enfrentando
alunos que não gostariam de estar em aula e fazem questão de demonstrar isso. Nece$$idade
talvez, aliada a uma utopia: o ensino vai melhorar. Gostaria, porém, de ficar
apenas escrevendo, no máximo fazendo palestras sobre meus livros ou tendo
colaboração paga nos jornais – ao contrário do que muitos pensam, não recebo
nada pela minha coluna Traçando livros,
do que não reclamo, pois aceitei assim.
Quando visualizo meu futuro, o caminho mais certo é o de professor.
Sim, estou publicando um livro, sou escritor. No entanto, não sei me vender
como tal. Não aceito esse mundinho literário do “me elogia que eu te elogio”, “não
critica para não te queimar”. Por conseguinte, minhas obras serão como tantas
outras publicadas por aí, esquecidas em prateleiras ou gavetas de amigos e
parentes que vão comprar alguns exemplares por compromisso social. Não, não é
choradeira. Minha escolha acabou sendo essa, na medida em que desisti de
publicar por uma grande editora e não faço parte de uma patota literária que,
antes mesmo de lançamento de um livro, já utiliza o twitter para dizer que o
grande amigo vai publicar mais uma grande obra. Serei lido por poucos leitores
qualificados, boa parte aqui do blog, outra do twitter, que já conhecem alguns
contos. Com essa leitura qualificada, que vai elogiar o que tem que ser
elogiado e criticar o que tem que ser criticado, ficarei satisfeito.
Continuarei sendo professor, portanto. Não sei se para
sempre. Não mais com o mesmo entusiasmo dos vinte e poucos anos. Talvez saia do
Ens. Médio e lecione na universidade. Não sei. Sei que não gostaria de
enfrentar alunos indisciplinados, idiotas que não atendem nosso apelo de que é
preciso ouvir, é preciso ler, é preciso escrever, é preciso aproveitar a chance
que muitos não tiveram, em décadas passadas, de estudar e adquirir
conhecimento. Estou cansado e desestimulado.
Ainda estás aí, caro leitor? És paciente, hein?
Comentários
Também sou professor - e de uma matéria que poucos gostam (Língua Portuguesa).
É curioso observar o nível de inércia, alienação e bestialização dos jovens pós-era-digital.
Por mais que tentemos criar expectativas; gerar sonhos; entusiasmar, parece que estamos falando para celenterados.
Também espero deixar o ensino fundamental e médio um dia. Aquilo nos envelhece.
Estais bem, Cassionei. Enpreendeste a caminhada. Não larga a utopia.
Carlos Heitor Cony
Obrigado e abraço, Flauzino.