No Traçando Livros de hoje, meu texto natalino



Escrevo sobre o salvador da humanidade na minha coluna de hoje no caderno Mix da Gazeta do Sul: http://www.gaz.com.br/gazetadosul/noticia/383890-o_salvador/edicao:2012-12-19.html
O salvador


Na época de Natal, me lembro sempre do nosso verdadeiro salvador. Suas ideias influenciam o mundo até hoje, séculos depois de sua morte, tanto que a história do pensamento se divide em antes e depois dele. No entanto, não deixou nada escrito. Tudo o que disse chegou até nós através dos discípulos que o seguiram, por isso muitas pessoas até duvidam da sua existência histórica. Não há, portanto, nenhum livro escrito por ele, mas sim os de outros autores que reproduziram suas palavras. Foram esses livros que a traça que vos fala devorou para conhecê-lo.

Vindo de uma família humilde, pouco se sabe sobre sua infância e adolescência, apenas que ajudava o seu pai no trabalho. Ele aparece para a história já na idade adulta, difundindo seus ensinamentos. Usava roupas simples, pois não se preocupava muito com a aparência, andando muitas vezes descalço. Entre as suas ideias, estava a de nos trazer a luz, nos tirando da escuridão. Para ensinar a seus seguidores, dialogava com eles caminhando pelas ruas da cidade. Quando falava, todos o escutavam. Dizia que era orientado por uma voz. Uma das poucas coisas que o irritavam eram os mercadores do saber. Apesar de difundir a paz, foi condenado à morte por enfrentar os poderosos da sua época, sendo que havia, entre seus amigos, traidores que o entregaram. Aceitou a morte como parte de sua missão. Antes, porém, se reuniu com seus seguidores, comendo, bebendo e deixando-lhes suas últimas palavras. Ainda mencionou a um deles, enigmaticamente, algo sobre um galo. 

Muitos acreditam, e me incluo entre eles, que a humanidade se salvará se seguirmos seus ensinamentos. Ele contribuiu para surgimento dos nossos valores morais. Saber o que é certo e errado, bem e mal, justo e injusto. Não só nos ensinou isso, como sua vida foi exemplo do que ensinava. Para ele, a ética tinha a ver com a virtude e o homem virtuoso é aquele sabe o que é o bem. O que pratica o mal é porque ignora seu significado, por isso a virtude é uma qualidade que pode ser ensinada. Tudo através do uso da razão. 

Aconselhava que devemos olhar para dentro de nós mesmos, buscarmos as respostas que estão escondidas nos desvãos de nossa mente. Lembrando a profissão da sua mãe, se dizia parteiro, não de pessoas, mas de ideias. Fazia com que seus discípulos, através de várias perguntas e respostas, “dessem à luz” o saber de que estavam “grávidos”. Por isso, palavras e expressões como “iluminado”, “lucidez”, “esclarecer”, “às claras”, etc. estão relacionadas ao conhecimento e à razão. Os filósofos franceses no século XVII, por exemplo, fundaram o Iluminismo e denominaram sua época de “Século das Luzes”.

Utilizou-se ainda da ironia, dizendo não saber nada, para depois mostrar que, na verdade, seu interlocutor é que era o ignorante. Ele tentou nos mostrar os caminhos para se chegar às verdades, não a uma só verdade absoluta. O farol que guia a embarcação, a luz no fim do túnel. Essa luminosidade nada tinha de sobrenatural, mas sim estava dentro de cada um. Muitos, porém, eram cegos e surdos, ou fingiam ser, mesmo para ver e escutar o seu interior. 

Era um santo, um sábio, um mártir. Morreu para se tornar imortal. E todos aqueles que o seguirem podem não se tornar imortais como ele, mas saberão encarar a morte, viverão melhor e salvarão o mundo da imbecilidade. 

Em dezembro, no hemisfério norte, se comemorava o nascimento do deus Sol – verdadeira origem do Natal –, por isso me lembro do salvador, aquele que nos mostrou a luz para se chegar ao conhecimento. 

O seu nome? Sócrates, o maior filósofo de todos os tempos.

Cassionei Niches Petry é mestrando em Letras e escritor, autor de Arranhões e outras feridas (Editora Multifoco). Não é cristão, mas comemora o Natal porque conhece a verdadeira origem da festividade. Escreve quinzenalmente para o Mix e mantém um blog, “El alacrán clavándose el aguijón”, cujo endereço é cassionei.blogspot.com.

Comentários

charlles campos disse…
Hahaha. Boa! Só não concordo. Sócrates salvador? Platão foi muito mais fundamental.
Cassionei Petry disse…
Licença poética. Se bem que o Platão reproduziu a maioria das ideias do Sócrates. Digamos que o Sócrates dava o passa de calcanhar para o Platão botar a bola pra dentro.

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