Diário crônico XXX – Fernandão
Quando
se tem um pai que põe na parede de casa um enorme quadro com a foto do Inter
campeão brasileiro de 1976 e uma família quase toda de colorados (com um e
outro que torcem pelo outro time, até porque nenhuma família é perfeita), é
inevitável não deixar de ser torcedor desse clube. Mesmo para quem cresceu nos
80 e 90 e viu o rival se consagrar e, o pior, sentiu na carne a soberba dos
torcedores do outro lado durante todo esse tempo.
Não
é à toa, portanto, que se surge um jogador capaz de conduzir teu time a conseguir todos os títulos possíveis, principalmente uma Libertadores e um Mundial, te
dando uma alegria inútil, mas que lava a tua alma, não tem como não
considerá-lo como uma figura importante da tua vida, mesmo que ela não tenha
modificado muito por causa destes feitos (se bem que só se livrar de eternas
flautas diárias já muda teu humor e te faz ser uma pessoa melhor).
Sou
um torcedor discreto, já fui mais empolgado, mas nada de fanático. Até andei me
afastando um tempo de qualquer coisa relacionada ao futebol, mas a instalação
de uma TV por assinatura aqui em casa, me proporcionando assistir a todos os
jogos do meu time, me fez retomar o gosto pelo esporte, pelo menos como um bom
entretenimento. Saber da morte do Fernandão traz aquele sentimento de “poxa,
por que ele?”, no entanto não me fez chorar porque não o considerava um ídolo,
que, aliás, nem tenho, nem mesmo no meio literário (minha esposa me cutuca e me
pergunta “e o Michael Jackson?” Respondo que o Jacko foi o primeiro ídolo de
infância e o sentimento que tive pela morte dele até hoje não consigo
explicar).
O
Fernandão foi o responsável por alguns momentos de alegria que depois se
transformaram em sentimento de alívio por todas as flautas idiotas que não
precisei mais aguentar. Há uma legião de colorados que vão cultuá-lo ainda mais
depois dessa morte trágica (me incluam fora dessa). Nesse caso, não um culto a
um jogador que só é bom de bola e ergue taças. Ele era também um sujeito bem
articulado ao falar, diferente dos demais assassinos da língua que povoam os
gramados. Está bem, sei que é uma chatice de um professor de língua portuguesa,
porém é uma qualidade a mais do atleta que é necessário ressaltar. Fica aqui
nessa crônica o registro no blog desse dia triste para o Internacional e seus
torcedores.
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