Alunos, a leitura está proibida
Já escrevi
sobre este livro para a minha coluna no jornal (http://cassionei.blogspot.com.br/2012/09/pedro-eiras-no-tracando-livros.html). O título é quilométrico,
inspirado em edições antigas: Pequeno
divertimento sobre literatura em cem lições também conhecido sob o título
Substâncias Perigosas em que se explica por que meios os livros matam os seus
leitores & onde se dão variados e mui instrutivos exemplos ao alcance do
comum dos mortais. Ufa. O
autor é Pedro Eiras, português, daqueles que tu te pergunta, mas por que diabos
não se encontra mais nada dele por aí. Pelo menos no Brasil, il, il. Seria ele
o Vila-Matas de Portugal? Não sei, só lendo outras coisas do escritor. Há no
final do volume a sua bibliografia. Talvez encomende algo dele. Talvez.
Doravante
chamaremos o livro (ensaio, romance, crônica, divertimento, ou “monólogos de
personagens sem romance”?) pelo seu título principal. Substâncias perigosas nos
traz um estudo sobre os perigos que a literatura pode causar ao indivíduo,
principalmente a morte e, mais ainda, o suicídio. Como sou contra qualquer tipo
de droga (café não é droga, combinado?), aconselho o leitor a se afastar deste
livro. Não só dele, como de qualquer outro (sim, inclusive de Arranhões e outras feridas e de Os óculos de Paula, que será lançado em
breve em papel). Literatura vicia, faz mal. “A literatura mata”, lemos na
primeira linha do livro. “Mata como um veneno no sangue (...). Infiltrado, o
veneno literário torna-se carne, a ponto de já ninguém saber quem pensa dentro
de si: a ilusão da voz original, ou a das personagens que entraram sem pedir
licença.”
Os livros
deveriam ser proibidos. Seu conteúdo é fatal. Não deveria haver bibliotecas nas
escolas, pois os alunos que as frequentam e, pior, retiram livros delas, ou pior
ainda, os leem, se envenenam. Há professores que obrigam os alunos a lerem,
sendo que deveriam proibi-los de fazê-lo. “Todos os livros” escreve Pedro
Eiras, “de algum modo, são errados. Porque nos desencaminham, isto é, fazem com
que erremos o caminho, com que caiamos nos atalhos perigosos.”
Durante muito
tempo fui um professor que desencaminhou os alunos, levei-os para caminhos
perigosos. De agora em diante, depois de reler Substâncias perigosas, proibirei a leitura de livros aos meus
alunos. Não vou mandá-los ler as memórias de um defunto mau caráter, não os
apresentarei a um ciumento doentio que acredita que a sua mulher o traiu com o
melhor amigo, não deixarei que encontrem a história de um estudante que se
julga extraordinário e por isso mata uma velhinha agiota para chegar a seus
objetivos de grandeza, não proporcionarei a leitura de um sujeito que se
transforma em um inseto e não vai trabalhar, não quero que leiam sobre uma
mulher que engole uma barata ou sobre outra que tem dois maridos, não, não,
jamais os farei se envenenarem com as ideias de um fidalgo que luta contra
moinhos de vento pensando que são gigantes ou com as ideias de liberdade de um
certo capitão.
Doravante,
alunos, os proíbo que abram um livro.
“Perigo da
literatura: ela sabe mais do que nós, conhece a nossa vida e a nossa morte, os
outros que há em nós, o abismo das vozes que vão falando, falando, falando em
nós”, escreve Eiras, que também afirma: “Escrevo para que o ensaio pense ao
contrário de mim.”
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