Você está demitido!
Já fui demitido duas
vezes. Poucas, é verdade, mas foi porque tive poucos empregos na iniciativa
privada. Da primeira vez, fui chutado de um motel, onde trabalhei por mais de 5
anos como auxiliar de escritório com múltiplas funções. Fiquei p... da vida, principalmente
pelo motivo alegado. O tempo passou e me conformei. Logo depois fui trabalhar
numa empresa de remessas expressas e dessa vez fui eu que pedi para sair, pois
havia conseguido um contrato como professor no ensino público. Fiquei quase 10
anos lecionando com contrato temporário e fui nomeado, depois de passar em
concurso, há apenas 3 anos.
Nesse meio tempo,
também consegui emprego em uma escola particular. Depois de 2 anos, no entanto,
fui chutado, e bem chutado, me senti humilhado, inclusive. Vida que segue. Uma
coisa que aprendi é que o empregador tem o direito de demitir quem ele bem
entender e que não somos insubstituíveis. Por isso me incomoda quando vejo,
principalmente na imprensa, uma gritaria quando profissionais são demitidos. Às
vezes, a crítica é só por corporativismo, outras vezes por questão ideológica.
Questiono, por exemplo, por que a rádio CBN não pode demitir seus jornalistas,
se assim achar por bem? Por que os sindicatos reclamam? E por que a TV Brasil
não pode escolher não renovar o contrato de uma apresentadora como Leda Nagle? Só
porque o seu programa tinha mais de 20 anos no ar? Só porque outro partido
comanda a estatal? O que dizer então da maioria da população que trabalha
apenas três meses de um contrato? Quem grita por ela?
Perder o emprego é
ruim para todo mundo. Dá uma sensação de fracasso, a gente fica sem saber o que
fazer, bate uma angústia danada. São planos de vida que escoam pelo bueiro, uma
indecisão sobre o que se vai fazer para pagar as contas, comprar comida e
livros, sustentar ou colaborar com o sustento da família. Entretanto, apesar de
estar relativamente tranquilo na minha posição, sinto que é uma injustiça com o
contribuinte que eu tenha estabilidade profissional por conta de um concurso
público. O contribuinte é meu chefe, no entanto ele pode ser demitido a
qualquer momento e eu não. Por conseguinte, há funcionários que fazem corpo
mole, não trabalham a contento porque sabem que não vão para o olho da rua. Já
passei por isso depois da morte do meu pai por conta de um acidente de
trânsito. Primeiro, o policial civil que não registrou devidamente a
ocorrência, por mais que eu tenha dito que não havia sido feito o BO da Brigada
Militar. Depois, os médicos do IML, que não faziam plantão na madrugada e somente
de manhã liberaram o corpo para a funerária, deixando a família angustiada.
Entendia antes a
estabilidade do funcionário público como decorrência da política, já que servia
para evitar que fossem demitidos todos aqueles que não concordassem com o
partido que tivesse o poder estatal. Se penso diferente, é porque mesmo assim as
pressões políticas continuam, a possibilidade de fazer greves diminui por conta
de leis que coíbem a prática, e me sinto culpado por ter regalias que os demais
trabalhadores não têm. E ser demitido faz parte do jogo. Não somos donos de
cargos. Outros, mais ou menos competentes, podem tomar nosso lugar, por que não?
É a roda.
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