Março: mês da boa guerra
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por Cassionei Niches Petry
Para muitas pessoas o ano inicia no mês de março. Os meses anteriores estão sempre relacionados às férias, mesmo que grande parte da população continue no batente. Em tempos passados, o mês era realmente o primeiro, por isso as palavras setembro, outubro, novembro e dezembro possuem os números sete, oito, nove e dez na sua formação. Além disso, no Hemisfério Norte é em março o início da primavera, estação que simboliza o renascer da vida.
O interessante disso tudo é que março tem esse nome em homenagem a Marte, deus da guerra na mitologia romana. Era a época ideal para o recomeço das atividades bélicas. A analogia entre o trabalho e a guerra se torna inevitável, afinal, depois de nos recuperarmos de uma guerra, outra se inicia, composta por várias batalhas.
Não é à toa que A arte da guerra, do chinês Sun Tzu, tenha se tornado um best-seller, principalmente quando o técnico Felipão, da seleção brasileira de futebol, disse ter se utilizado dos ensinamentos do livro para vencer a Copa do Mundo de 2002. O tratado, escrito no século IV a.C., tinha o objetivo de treinar estratégias e táticas de combate na guerra, porém, se transportado para contexto da boa guerra, que é o trabalho, pode ser um guia de como enfrentar nossas batalhas diárias.
Tirando a palavra “inimigo”, presente em todo o livro, podemos obter muitos ensinamentos para o nosso dia a dia. Por exemplo: "Aquele que conhece o inimigo e a si mesmo lutará cem batalhas sem perigo de derrota; para aquele que não conhece o inimigo, mas conhece a si mesmo, as chances para a vitória ou para a derrota serão iguais; aquele que não conhece nem o inimigo e nem a si próprio, será derrotado em todas as batalhas" O conhecer a si mesmo pode ter vários sentidos. Prefiro o lado filosófico da expressão, que nos remete ao Sócrates (o filósofo, não o jogador). Conhecer a si mesmo passa ao largo dos livros de auto-ajuda que pululam por aí (é auto-ajuda para quem os escreve e ganha muito dinheiro com isso). Conhecer a si mesmo é buscar o conhecimento que serve para você mesmo e não fórmulas prontas, mastigadas, que deram certo para uns, mas não significa que podem dar certo para você. Como disse Graham Bell: “Nunca ande pelo caminho traçado, pois você vai chegar somente aonde outros já chegaram”. Ou então Nietzsche, que termina o seu livro “Aurora” com um aforismo em que diz “Por que esse voo perdido nessa direção, para o ponto onde até agora todos os sóis declinaram e se extinguiram?”.
Se queremos vencer a boa guerra, obtendo vitórias nos objetivos profissionais, temos que traçar nossas próprias estratégias. Ao invés do “faço o que eu digo”, proponho o “não faça o que eu digo e não faça o que eu faço”. Portanto, esqueçam o que escrevi.
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Ouvindo Etudes, de Frédéric Chopin, interpretados por Maurizio Pollini. Em março se comemoram os 200 anos do compositor polonês.
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Comentários
Vou seguir os conselhos...ou não.
Até. Vê se aparece lá no blog.