O “pecado” da opinião
Falta de informação e contradições marcaram o artigo de opinião do senhor Sérgio Agra nesta mesma página, na edição do dia 21 de setembro. Ao tentar atacar dois nomes importantes do cenário das ideias, o advogado atribui a Richard Dawkins e a Christopher Hitchens o epíteto de “celebridades instantâneas”.
Em primeiro lugar, os dois já são conhecidíssimos pelos seus trabalhos anteriores aos livros citados. Dawkins (nome grafado duas vezes no artigo de forma errada) é biólogo renomado, documentarista e suas obras de divulgação científica são há muito tempo editadas e reeditadas no mundo todo, sendo que no Brasil seus livros, entre os quais O gene egoísta e o citado Deus, um delírio, chegam às nossas mãos pela prestigiosa Companhia das Letras. Hitchens, por sua vez, além de ser colunista de conceituados jornais e revistas britânicas, publicou recentemente no Brasil, pela mesma editora, o livro A vitória de Orwell, em que analisa a obra de George Orwell, autor dos romances 1984 e A revolução dos bichos. Deus não e grande é apenas um de seus tanto livros. Os dois, portanto, são intelectuais que não devem ser considerados celebridades instantâneas, tampouco necessitam escrever best-sellers para ganhar dinheiro. Ou o articulista teve preguiça de pesquisar sobre os dois ou foi tendencioso ao atacá-los.
O “pecado” deles, segundo Agra, foi publicar obras que discutem a existência de Deus. Qual o problema disso? Se o articulista vive no planeta Terra, deve saber que há pessoas que acreditam em um suposto ser superior e há outros que não acreditam, bem como há os que creem em vários deuses. Todos têm o direito de expor sua opinião, como o próprio Agra o fez ao final do artigo, afirmando que “há uma Suprema Inteligência que gerou este e outros inumeráveis Universos.” Soberba e orgulho - atribuídos a eles pelo autor - é achar que só essa posição é verdadeira, sem reconhecer as posições contrárias.
Por fim, o autor os chama de “celebridadezinhas”- acreditem! - e que “em alguns pares de anos nem mais saberemos quem foram”. No entanto, os compara a Nietzsche, filósofo do século XIX, que até hoje, no século XXI, é estudado e está no topo ao lado dos grandes pensadores da humanidade. Contraditório, portanto. Além disso, como já escrevi, eles já há anos têm o seu espaço garantido no cenário intelectual mundial e nunca buscaram ser celebridades, mas sim, discutir ideias.
Faltou ao articulista contrapor os argumentos de Richard Dawkins e Christopher Hitchens, pois simplesmente os acusou de terem a “petulância” de “colocar Deus em discussão”, sem apontar no que eles estão supostamente equivocados.
As opiniões, caro advogado, servem para serem debatidas. Porém, julgar os outros simplesmente por não gostar de sua opinião é injusto e vai de encontro a uma das leis dessa “Suprema inteligência” que tu defendes: “Não levantarás falso testemunho”.
Comentários
Anônimo, não acho que seja um jornaleco, até porque escrevo sobre livros para este jornal. No entanto eles costumam censurar este tipo de texto. Espero estar errado dessa vez.
Pergunta Cassionei: Quem coordena o jornal não tem que ler o que seus colaboradores escrevem ? Se assim o for, alguém igualmente equivocado corroborou com o que o "adevogado" escreveu.
p.s. o termo entre aspas não visa questionar a competência dele, em sua área específica.
No caso do jornal, é uma página de opinião, não de colaboradores, não significa que a editoria concorda com texto. Mas não publicar essa resposta, sei lá. Nem me responderam o e-mail em que perguntei se iria sair. Espero que amanhã tenhamos uma "luz".
Obrigado pelo comentário.