Voto no PMP
Houve um tempo em que me interessava por política partidária. Fui simpatizante do PT e até comprei uma estrelinha do partido, a qual usava no peito, com certo orgulho. Era uma época em que lia muito literatura dos anos 70, tanto brasileira como latino-americana e, claro, fui influenciado pelo pensamento dos escritores, a maioria de esquerda. Participava de uma rádio comunitária, crivada de militantes petistas e participei do movimento Hip Hop, mais do lado político do que no lado cultural, escrevendo raps de protesto.
O Lula na presidência foi para mim um sonho realizado, já imaginava a utopia deixando se ser utopia. Chorei quando ele discursou depois da vitória, mas prometi para mim mesmo que se não fosse um bom presidente não votaria mais nele.
O que até hoje está nítida na minha lembrança foi o que ele disse quando lançou o Fome Zero: “não dormirei tranquilamente enquanto houver criança com fome nesse país”. Passaram-se os quatro primeiros anos do seu governo e o que vi foi uma repetição, um pouco melhorada sem dúvida, do governo neoliberal do FHC e, além disso, muitas crianças no Brasil continuaram e continuam com fome. Mantendo minha coerência, não votei no Lula em 2006, muito menos no PSDB. Desiludido, tomei uma atitude que pensei que jamais tomaria: votei em branco.
Nesse tempo todo, deixei de acreditar em partidos e também no socialismo, quando percebi que pensar apenas no coletivo destrói nossa individualidade. O movimento Hip Hop demonstrou ser na prática um lugar de hipocrisia, com letras de Rap contra as drogas escritas por um MC fumando maconha. Passei então a ter certa distância de coisas coletivas, apesar de não saber dizer “não” quando me convidam para participar, por exemplo, da Associação das Entidades Carnavalescas da minha cidade, como estou participando agora.
Hoje, penso por mim. Não me importo mais com que os outros vão pensar. Por isso no primeiro turno dessa eleição meus votos também foram em branco, com exceção (sem trocadilho, por favor) do Paulo Paim, um dos poucos políticos que trabalham para valer em prol dos que necessitam: negros, aposentados, etc. Posso ser chamado de ignorante por deixar que outros decidam por mim, mas também não quero ser conivente com o sistema político que está aí, em que as ideologias são deixadas de lado para se buscar o poder.
Chega-se ao fim de mais uma campanha eleitoral de baixo nível, com acusações de ambos os lados e falta de propostas concretas. O que se vê é um discurso mais uma vez para agradar uma maioria, sejam os cretoides ou os ecochatos. Prefiro ficar no “bloco do eu sozinho”, sendo “um exército de um homem só”, do que participar do rebanho do “admirável gado novo”. Por isso, no segundo turno, devido principalmente ao proselitismo religioso começado pela campanha tucana, meu voto será da Dilma, apesar de não concordar com o governo petista, e também não quero ver a volta do PSDB ao poder. Ou seja, lamentavelmente voto no Partido do “Menos Pior”.
Comentários
Paim me presenteou até com uma Constituição Federal autografada! MAS AAAHH! Nem precisei comprar para os estudos!