Germano e as bolsas



Germano é desses moradores do interior, mais precisamente de uma cidade de imigração alemã, mais precisamente ainda do interior dessa cidade do interior. Trabalha na lavoura de fumo e depois vai vendê-lo na cidade. Investe o dinheiro por lá mesmo, em estabelecimentos que tocam bandinha à tarde toda ou ainda em um prédio de moças educadas, que sempre estão debruçadas na janela, mostrando que são mulheres de (res)peito, convidando os transeuntes para tomar alguma coisa. São muito hospitaleiras essas moças, deixando seus convidados beeeeem à vontade. É por isso que eles sempre voltam.

Às vezes, é tanto o investimento que Germano faz na cidade, que precisa inventar uma desculpa para a mulher pelo fato de chegar sem dinheiro em casa:

- Nem sabe, minha velha, mas eu caí no golpe do bilhete.

Antes ser chamado de burro do que levar uma surra.

Germano também gosta de investir seus fundos nas cadeiras de PVC do calçadão da cidade. Bem acomodado, toma cerveja, olha o movimento dos carros e de outras moças que passam balançando suas b...olsas. Aliás, ele se espanta com a variedade de bolsas na cidade. No interior, é sempre do mesmo tipo, geralmente umas que parecem sempre sem conteúdo. Na cidade, não. Até podem ter muitas bolsas feias, mas ele repara naquelas que são mais bonitas, de diferentes formatos e, principalmente as bem abundantes. Sentado no calçadão, Germano se torna um bom apreciador de bolsas. De tanto ver bolsas, Germano sente vontade de aplicar seu dinheiro na bolsa de valores. Como não há nenhuma na cidade, acaba aplicando, como já vimos, em outros investimentos a fundo perdido.

Nosso homem do interior do interior dessa cidade de imigração alemã gosta de conversar com seus companheiros de copo sobre futebol, política e, claro, mulheres. É colorado, inclusive a cor vermelha está sempre estampada no seu rosto, principalmente em dias de sol forte ou quando uma mulher o pega em flagrante olhando para sua bolsa. De política, tinha simpatia pelo PT, por causa da cor vermelha, mas desistiu do partido depois que soube que o Lula é corintiano. Passou, então, a votar no DEM, mas teve desistir depois que sua mulher disse que era o partido do demônio. “Não tá vendo as primeiras letras, seu burro”. Hoje diz que o que importa é a pessoa, não o partido, por isso só vai votar neste ano, para prefeito e vereador, naquele que sentar com ele na mesma mesa da calçada e tomar da mesma cerveja, olhando com ele o desfile de bolsas no centro da cidade.

Ou então na candidata a prefeita ou vereadora que for na sua casa entreter sua mulher, enquanto ele investe devidamente seu dinheiro.

Comentários

۞ Potira ۞ disse…
Esses homens de olho nas "bolsas" da mulherada...

=P
Tom disse…
HAHAHAHA MUITO BOM.
Cassionei Petry disse…
Valeu, gente boa de Venâncio!
Fabiano Felten disse…
Confessa, Cassionei: tu queria dizer "bocetas"...

O texto tem momentos muito bons. Invista mais no humor.

Abração,
Fabiano.
charlles campos disse…
Gostei muito do texto. Veia cômica de mão cheia (sem trocadilhos). Me lembrou os deliciosos contos do Padre Brown, do Chesterton. Acho que deveria investir em um conto mais longo, com esse tom.
Cassionei Petry disse…
Fabiano, bocetas balançando... não sei não. Sobre investir no humor, é uma boa ideia.

Charlles, me deu mais um incentivo para ler Chesterton. Está na fila.

Conto humorístico... No livro há pelo um assim, até o publiquei no blog, mas é curto.

Como o incentivo me move, aguardem mais textos assim.

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