Olivetti ("Eles" II)
Dudu era um garoto
como outro qualquer da sua idade. Gostava de futebol, de andar de bicicleta,
jogar vídeo game, de assistir à televisão, de ouvir música. Diferentemente da
maioria, porém, gostava de ler. Começou com a coleção de gibis dos seus tios e
depois passou a ler histórias sem ilustração nenhuma. Aventura, ficção
científica, terror. Um dos seus tios, advogado, também gostava de ler e o
presenteava com alguns livros de sua biblioteca.
Na adolescência, Dudu
começou a escrever seus próprios livros. Datilografava suas histórias na
Olivetti que também herdou do tio. Escrevia e guardava tudo na gaveta de sua
escrivaninha. Depois do terceiro livro, desistiu de escrever. O tio, seu maior
incentivador, havia se mudado para outra cidade para exercer a advocacia. A
Literatura foi deixada de lado.
Começou a ir a festas,
se envolver com garotas, beber, até chegar às drogas. Numa noite de porre e
muita maconha, chegou em casa e leu um bilhete deixado pela sua mãe: era para
ligar para seu tio. Discou o número e, do outro lado, ouviu uma voz baixa
dizer: “eles querem que você abra a gaveta, meu sobrinho”. Abriu-a. Uma luz
forte o envolveu e ele foi tragado para o interior do móvel, tal qual Alice no
filme de Švankmajer.
Quando a mãe entrou no
quarto, não encontrou o filho. Apenas uma palavra escrita na velha Olivetti:
“Eles”.
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