Carpe diem, meus alunos
Estou cansado de lamentar morte de artistas neste
2014, isso que estamos apenas em agosto. Coincidentemente morreram dois caras
que me inquietam por me fazerem rever meu trabalho como professor. Sobre um
deles, já escrevi por aqui, o Rubem Alves. O outro morreu ontem, Robin
Williams.
Quem me inquieta, na verdade, é o personagem vivido
por ele em “Sociedade dos poetas mortos”, o professor Keating. Não sei nem
mesmo se ele compactuava com as ideias do seu personagem. Mas o filme foi muito
importante na minha vida, e continua sendo, na medida em que ainda o utilizo em
sala de aula, seja mostrando aos alunos, que acabam adorando assisti-lo, seja
para renovar meus conceitos. A realidade da sala de aula, no entanto, não me
permite ser como Keating, como gostaria. Não dá para rasgar os livros
didáticos, “pular” estudos de escolas literárias, subir na mesa (até porque meu
peso não permite, no máximo subir em cima da cadeira). Tampouco há alunos,
com raríssimas exceções, com sensibilidade poética para verem as coisas por
outro ângulo e dispostos a se envolverem numa aula diferente. Tentei isso
várias vezes. Funciona no início, mas depois não levam mais nada a sério e o
que era interessante se torna chato para eles.
É bom lembrar que a escola, de uma forma geral, já há
muito tempo não é mais conservadora, tradicional, porém não se decidiu a
renovar de vez, e por isso os conflitos entre professor X aluno persistem. A
escola deixou de ensinar, preocupada em agradar o aluno, afrouxou demais, e não
mostra a importância que se deve dar ao conhecimento. Tudo hoje é em torno do “se
adequar a realidade do aluno”, para a educação ter efeito precisa “fazer
sentido para o estudante”. O personagem de Williams mostrava justamente que é
necessário algo além das questões prementes do dia a dia, como nesse trecho de
uma de suas lições: “Não lemos e escrevemos poesia porque é moda. Lemos e
escrevemos poesia porque fazemos parte da raça humana. E a raça humana está
impregnada de paixão. Medicina, Direito, Administração, Engenharia, são
atividades nobres, necessárias à vida. Mas a poesia, a beleza, o romance, o
amor, são as coisas pelas quais vale a pena viver.”
Carpe diem, era o lema recorrente no filme. No caso, significa não somente aproveitar a
vida para fazer coisas úteis, mas principalmente era um chamado para que os alunos
tornassem suas vidas extraordinárias. E não vejo forma de tornar a vida dos
meus alunos extraordinária se não ensiná-los a aprender o que eles não sabem e
não apenas o que já sabem, dar um sentido para o que não faz sentido para eles,
mostrar-lhes outra realidade. Esse é o papel do professor. Isso fez Keating. Isso
fazem artistas como Robin Williams.
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