Os 4 tipos de suicidas
Escrevi antes sobre o Robin Williams e não
mencionei nada sobre ele ter se suicidado. Como vocês, leitores do blog, já
sabem, o suicídio é um de meus temas de estudo, especificamente na literatura,
mas que acaba desembocando também nas artes em geral. Não ia falar nada sobre a
decisão do ator, porém ler e ouvir julgamentos que fizeram sobre o ato me deixa
incomodado, principalmente pela desinformação de quem emite conclusões
precipitadas.
Já li/ouvi gente dizendo para não termos pena de
quem se mata, pois quem o faz é um covarde, egoísta e, claro, não pode faltar o
famoso não tem Deus no coração. Há quem critica o fato de alguém alegar
depressão, que isso não existe, é falta de uma boa chinelada e coisas do tipo. Temos
bons números de psiquiatras e psicólogos exercendo a profissão sem ser formado.
Coincidentemente andei lendo alguns capítulos do
livro “Demônio do meio-dia – uma anatomia da depressão”, de Andrew Solomon, e
um deles trata especificamente do suicídio. Se conhecessem pelo menos essa
obra, os falsos profissionais da saúde que andam fazendo diagnósticos por aí
poderiam rever seus conceitos.
Destaco um trecho da obra, uma classificação bem
sucinta de tipos de suicidas:
Os suicidas dividem-se em quatro grupos. O
primeiro comete suicídio sem pensar no que está fazendo; é tão horrível e
inevitável para ele quanto respirar. Tais pessoas são as mais impulsivas e as
mais propensas a serem levadas ao suicídio por um evento externo específico;
seus suicídios tendem a ser repentinos. Como o ensaísta A. Alvarez escreveu em
sua brilhante reflexão sobre o suicídio, “O deus selvagem”, eles fazem “uma
tentativa de exorcismo” da dor que a vida só consegue entorpecer aos poucos. O
segundo grupo, meio apaixonado pela morte consoladora, comete suicídio como
vingança, como se o ato não fosse irreversível. Sobre esse grupo, Alvarez
escreve: “Esse é o problema do suicídio: é um ato de ambição que só pode ser
cometido quando já se está além de toda ambição”. Essas pessoas não estão
fugindo da vida, mas correndo para a morte, desejando não o fim da existência,
mas a presença da obliteração. O terceiro grupo comete suicídio por uma lógica
falha, em que a morte parece ser a única fuga de problemas intoleráveis. Eles
consideram as opções e planejam seus suicídios, escrevem bilhetes e lidam com
os aspectos pragmáticos como se organizassem férias no espaço sideral.
Geralmente acreditam não somente que a morte vai melhorar sua condição, mas
também que ela pode tirar um fardo das pessoas que os amam (a realidade costuma
ser o contrário disso). O último grupo comete suicídio com uma lógica racional.
Tais pessoas — devido a uma doença física, instabilidade mental ou uma mudança
nas circunstâncias de vida — não querem a dor da vida e acreditam que o prazer
que elas podem vir a sentir não é suficiente para compensar a dor. Essas
pessoas podem ou não ter razão em suas prenúncias, mas não se iludem, e nenhuma
quantidade de tratamento ou medicação antidepressiva as fará mudar de ideia.
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