Minha homenagem ao centenário de Cortázar
100 anos do Grande Cronópio
A obra do
argentino Julio Cortázar nos conquista ao estilo de “Casa tomada”, um dos seus mais
importantes contos. Nele, um casal de irmãos vê sua residência sendo invadida cômodo
por cômodo, não se sabe exatamente por quem. O leitor se sente invadido como
essas duas personagens ao ler Cortázar. Começamos com um conto, depois outro,
após lemos os inclassificáveis textos dos cronópios, passamos por seus poemas,
romances, cartas e, quando menos esperamos, nosso corpo está tomado de
Cortázar, deixamos de ser nós mesmos para nos transformarmos numa espécie de
anfíbio chamado axolote, num motoqueiro na cama de um hospital que sonha ser um
ameríndio de séculos atrás e que por sua vez sonha estar dirigindo numa espécie
de inseto veloz sobre rodas, ou então saímos vomitando coelhos, ou, talvez
pior, vemos tigres caminhando pelos cômodos de nossa casa, enfim, nos
metamorfoseamos em personagens cortazarianas.
Julio
Cortázar dizia que, na nossa realidade, há sempre um mistério a ser descoberto.
As histórias fantásticas e aparentemente fantasiosas que escreveu guardam essa
perspectiva. O tempo parece passar de modo diferente no subterrâneo do metrô e,
quando voltamos à superfície, podemos nos deparar com outra realidade. Numa
ponte, misteriosamente podemos estar em Buenos Aires e nos transportamos para Budapeste.
Vindos de portas escondidas atrás de armários em hotéis de qualquer cidade,
pode-se ouvir sons estranhos e perturbadores. Cerimônias secretas podem
acontecer numa escola durante a madrugada. Ao olhar as fotos de uma viagem,
podemos ter uma surpresa não muito agradável. Um engarrafamento no trânsito
pode durar semanas. Um bombom de licor feito por uma namorada pode não conter
licor dentro. E você, leitor, pode estar lendo um romance em que há um
assassino que vai matar alguém, e esse alguém é você mesmo.
Cortázar nos
convida a jogar com ele, pulando as “casinhas” do jogo da amarelinha, apostando
em uma loteria cujo prêmio é um cruzeiro de navio, lutando boxe, criando
anagramas e palíndromos. Jogar com esse jovem que nasceu há exatos 100 anos é uma
diversão fascinante. Vamos jogar juntos?
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