Esquerda ou direita, é preciso escolher?
Já fui uma pessoa
ligada à política na minha juventude. Influenciado pelo movimento Hip Hop,
durante um bom tempo era um sujeito de esquerda, preocupado com as questões
sociais. Era mais especificamente petista, daqueles que usavam a estrelinha no
peito. Entrando na universidade, minha ideologia foi fortalecida, afinal os
professores que não eram indiferentes à política faziam questão de demonstrar
seus ideais esquerdistas, a admiração pelo socialismo, o ódio à direita. Na
aula de didática, no lugar de práticas de ensino, aprendi a criticar a visão
neoliberal e capitalista que acabava com a educação. Fui muito bem doutrinado,
obrigado. Cheguei a chorar de emoção quando o Lula foi eleito.
Algo, porém, me inquietava.
Não conseguia aceitar a visão coletivista do esquerdismo. Os que criticavam a
condição do povo como massa de manobra do capital se tornavam uma massa
obediente aos ditames comunistas. Minha individualidade estava ameaçada. Foi
quando conheci a obra do Olavo de Carvalho, principalmente o livro O imbecil coletivo, e sites da internet
que reconheciam a importância do indivíduo. As letras do Neil Peart, baterista
da banda canadense Rush, também começaram a me fazer refletir sobre o homem
frente à massa. Acontece que esse pensamento é relacionado à dita “direita” e
para mim isso era uma ofensa. Pelo menos foi o que minha mente ainda presa à
esquerda pensava.
Afastei-me das
ideias de Olavo de Carvalho devido à maneira com que ele trata os ateus. Boa
parte da direita, infelizmente, mantém uma postura religiosa dogmática. Por
isso, hoje digo que estou em cima do muro, com uma visão privilegiada,
portanto, dos dois lados. As manifestações do dia 15 de março foram observadas
aqui de casa, pela TV e pela internet porque, mesmo sendo contra o governo que
aí está e contra as bandeiras que os partidos e instituições que o apoiam
levantam, também sou contra quem deseja a volta de uma ditadura militar ou
enaltece medievalistas como Bolsonaro ou Feliciano. Não saio às ruas porque não
quero parecer uma ovelha a mais no rebanho.
O que me incomodou,
porém, foi a visão simplista de meus pares intelectuais (professores,
escritores, filósofos, artistas) tentando defender a todo o custo o governo. Há
uma subserviência incrível a um partido que partiu não só o Brasil como a
própria esquerda. Penso que a falta de independência política limita a ação
desses intelectuais que parecem estar vivendo no paraíso, na utopia que tanto almejavam
e não enxergam ou, o que é pior, fingem não enxergar a realidade de miséria que
vivemos em todos esses anos, a corrupção que aumenta, a educação que só piora. Em
vez de pedirem que o seu governo melhore nesses aspectos, despreza o protesto
legítimos de milhões de brasileiros, como se só a esquerda tivesse o direito de
ir às ruas.
Hoje a esquerda está
no poder, ontem foi a direita. O que mudou nesse país? Humberto Gessinger já
cantava lá nos anos 80: “Esquerda e direita, direitos e deveres,/ Os 3 patetas, os 3 poderes/ Ascensão
e queda, são dois lados da mesma moeda/ Tudo é igual quando se pensa/Em como
tudo poderia ser/ Há tão pouca diferença e há tanta coisa a fazer.” Uma das coisas que temos a fazer é reconhecer que
existe tanto ditadura de direita como de esquerda. E ambas são indesejáveis.
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