Prefiro lista de livros
O ser humano adora
listas. Qualquer tipo de lista. Há obras literárias que tratam do tema.
Lembro-me agora, de cabeça, de dois livros: A
vertigem das listas, de Umberto Eco, e Alta
fidelidade, de Nick Hornby, romance adaptado para o cinema. Há, também, um
conto originalíssimo de Woody Allen, na coletânea Cuca fundida, em que o narrador analisa a publicação póstuma de
listas de roupas para a lavanderia elaboradas por um escritor, algo do tipo
“diga-me que roupas tens para lavar, que te direi quem és”.
Eu, por exemplo,
faço muitas listas, principalmente relacionadas aos livros: livros que li
(nome, aliás, do blog do excelente leitor Aguinaldo Severino), livros que
desejo ler, livros que deixei de ler, livros que não quero ler, livros sobre
suicídio, das pessoas para quem devo mandar o PDF do meu último livro, das
pessoas que compraram meu livro, das pessoas que querem comprar meu livro, das
pessoas que dizem que querem comprar meu livro, mas se escapam quando pergunto
“quando?”, etc.
A lista que vem
abalando as estruturas do nosso país do momento não tem nada de literária, mas
é considerada uma ficção para quem se vê atingido, ao mesmo tempo em que
representa a fiel realidade para quem está do outro lado no campo ideológico e
partidário. Digitei a palavra “lista” no Google e só dava a “Lista de Fachin”
como resultado nas primeiras páginas. Antes de enumerar os prováveis políticos
envolvidos em esquemas de propina, o rol é um retrato da nosso caráter (ou
falta de). Sim, nosso caráter. Lá estão as pessoas que nós escolhemos (ou
deixamos de escolher, que é o meu caso, pois voto em branco) para nos
representar. Estão lá indivíduos de quase todos os partidos, de quase todas as
ideologias e os que não estão podem ainda estar em outras listas futuras. Os
versos de Victor Martins e Ivan Lins representam muito bem o que estamos
presenciando: “Cai o rei de espadas, cai o rei de ouros, cai o rei de paus, cai
não fica nada”.
Ainda assim, vejam
vocês, há quem defenda o seu herói na política, o seu partido que surgiu para
salvar o país, a sua ideologia que veio defender a igualdade. Só se for a
igualdade para roubar. Ainda assim há quem diz que você é um ignorante, que
precisa ler mais, que está errado ao criticar aqueles que vieram tirar o Brasil
da miséria, gente que na verdade arrota caviar e nunca visitou um bairro pobre
para se certificar se realmente tantas pessoas assim saíram da pobreza. Salvo
se aceitar migalhas virou sinônimo de viver bem. Ainda assim há quem deseja
ficar cego em frente aos fatos, cegueira seletiva, na verdade, porque jamais
admitem estar errados. Digo isso com tranquilidade, pois admito que errei
quando ajudei o partido defensor dos “frascos e comprimidos” a chegar ao poder
no país e ainda chorei de emoção no discurso de posse do seu líder maior.
Inspirado nas
pessoas que ainda acreditam em Papai Noel, principalmente porque se veste de
vermelho e tem a barba grande e branca, crio mais algumas listas, devidamente
arquivadas em uma pasta do computador, para que no futuro, postumamente, possa
ser publicada nas minhas obras completas como as do personagem de Woody Allen.
Reproduzo aqui, por motivos óbvios, somente os títulos:
Lista das pessoas
que me bloquearam nas redes sociais porque comemorei o impeachment da
presidenta.
Lista das pessoas
que me bloquearam nas redes sociais porque critiquei um ditador.
Lista das pessoas
que apenas criticam minhas postagens sobre política e ignoram minhas postagens
sobre literatura.
Lista de pessoas que
criticam determinadas postagens sobre política e ignoraram as postagens em que
ironizo o “presidento”.
Lista de
ex-professores que me decepcionaram e deixaram de ser minha referência
intelectual.
Lista de pessoas que
criticam a lava-jato quando atinge seus interesses, mas também critica os que querem
abafar a operação porque os culpados são sempre os outros.
Lista de pessoas que
lerão este texto e não vão entender nada, mas mesmo assim irão comentar e
criticar.
Lista de pessoas que
não me criticam nem nos comentários das postagens e nem cara a cara, mas pelas
costas, em outros ambientes, como a sala de professores, e esquecem que há
delatores que deixam vazar informações.
Mais sugestões de
listas, caro leitor?
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